terça-feira, 9 de julho de 2013

Nem capitalismo, nem socialismo -- O que é distributismo?



O que é Distributismo?

O Distributismo tem suas raízes nas teorias econômicas e sociais articuladas nos documentos dos pontífices católicos, começando com o Papa Leão XIII, na "Rerum Novarum". Essas encíclicas sociais trazem imperativos nas transações econômicas e suas relações com o trabalho, solidariedade, salários, a larga difusão da propriedade, e os limites apropriados à tecnologia. O Distributismo é um sistema econômico que concorda com os princípios desses documentos, e é centrado na mais vasta posse de propriedade possível como a melhor garantia da liberdade política e econômica. Uma família que tenha sua própria terra e suas próprias ferramentas pode levar sua vida sem ser dependente de terceiros por emprego. Assim, o Distributismo almeja estender a propriedade para quantos forem possíveis, e acabar com a concentração da propriedade por poucos capitalistas ou pelo Estado.

O que são os 'meios de produção'?

Meios de produção são terra, ferramentas e equipamentos necessários ao trabalho para transformar materiais brutos em bens e serviços. Como riqueza (bens ou serviços) somente é possível pela combinação dos meios de produção, trabalho e matérias primas, acreditamos que é melhor quando esses são adquiridos cooperativamente (de posse do trabalhador) ou trabalhados inteiramente pela família.

Vocês são Capitalistas ou Socialistas?

Nenhum dos dois. Capitalismo - ou proletarianismo - é um sistema baseado na maximização dos resultados dos investimentos, e busca isso à expensa do trabalho e do bem comum. O Socialismo busca eliminar a propriedade e colocá-la nas mãos de um governo impessoal e centralizado. Os dois sistemas - capitalismo e socialismo - limitam a real propriedade na prática. A única diferença entre um estado socialista e um capitalista é se o poder está concentrado em poucas mãos privadas ou burocráticas.

Então vocês não suportam um "Grande Governo"?


Distributistas são descentralistas que acreditam que a maioria das funções organizacionais (negócios, governo, ou trabalho) deveriam ocorrer no menor nível de competência possível (subsidiariedade). Instituições como cooperativas locais e governos existem para frear controles em larga escala, sejam eles burocráticos ou comerciais.


O que tem a ver com justiça?


Desde os tempos de Aristóteles, os filósofos e economistas consideram que a justiça é um elemento integral do mercado; um fator a ser considerado antes que as trocas se efetivem. Todavia, durante o período da história conhecido como o Iluminismo, surgiu o equívoco de que a justiça social viria somente das "forças do mercado", ou do planejamento central pelo governo. Nesse caso, o homem se torna uma mera engrenagem na máquina da economia; ele é reduzido a uma insignificância material que desconsidera sua natureza decaída ou telos (propósito). Assim, enquanto sabemos da dependência do homem dos bens materiais, reconhecemos que o comércio e as políticas sociais devem estar subordinados à sua vocação virtuosa.


Não seria o Distributismo menos eficiente, nos tornando todos mais pobres?

Apesar do capitalismo se dizer altamente "eficiente", ele não funciona tão bem sem massivas despesas e intervenções governamentais. Os distributistas afirmam que a propriedade produtiva é uma geradora genuína de riqueza, porque serve e sustenta a família materialmente (comida, roupa, e abrigo), e cultiva a alma para o trabalho. Ademais, nós enfatizamos que a propriedade distribuída é na verdade mais eficiente e menos dependente de enormes conglomerados governamentais ou corporativos. A propriedade significa liberdade para o dono em relação à volatilidade financeira, assim como, da perspectiva do dono da casa, a terra transcende os valores de mercado devido à sua indispensabilidade para a estabilidade da família.

Qual é a sua posição em relação à nossa crise econômica atual?

Salários estagnados, usura, especulação, derivativos, desperdício e dívidas dos consumidores são somente uma parte dos problemas que transformaram uma terra de pequenos negócios e pequenos fazendeiros em uma nação dividida em corporações entregando suas responsabilidades aos contribuintes e um governo obrigado a ver as coisas de outra forma enquanto os empregos são mandados para o exterior. Com relativamente poucos produtores e mais produção externa, a confiança da família em obter comida saudável, salários justos, casa própria, plano de saúde, e educação apropriada para seus filhos através do emprego, está entrando em colapso.

Como o distributismo planeja nos ajudar a restabelecer a sanidade econômica?

Nós acreditamos que um renascimento da economia local irá reparar o dano moldado pelas corporações que pressionam o governo por maiores subsídios do erário público. O distributismo traz uma economia humana e uma política social investida nas necessidades da família através da posse da propriedade e tecnologia sob medida. Nossos objetivos incluem a restauração do sistema de cooperativas, o apoio a negócios familiares e de posse dos trabalhadores, empréstimos de micro-crédito, agricultura suportada pela comunidade, e associações preocupadas em implementar programas de administração vigorosos. Nós suportamos iniciativas políticas para favorecer políticas de taxação diferenciadas, assistência legal para os negócios baseados em casa, assim como a revisão da contabilidade e das práticas bancárias. Pretendemos atingir nossos objetivos formando um movimento popular de acadêmicos e homens leigos trabalhando juntos para criar seções regionais dedicadas à implementação do programa distributista.


Isso tudo não é muito utópico?

Não, o distributismo é um sistema prático, que é validado por vários exemplos de empresas distributistas em funcionamento; em escala pequena, existem milhares de companhias baseadas em casa e de posse dos seus trabalhadores, bancos de micro empréstimos, uniões de crédito, e companhias de seguros; em larga escala, há a Cooperativa de Mondragón na Espanha, uma das mais bem sucedidas cooperativas na Europa, e a economia distributista de Emilia-Romagna (Bologna) na Itália, onde mais de 45% do PIB vem das cooperativas, e que se vangloria de um padrão de vida que é o dobro do restante da Itália e um dos maiores da Europa. As economias distributistas e companhias têm uma vantagem competitiva inerente sobre suas contrapartes capitalistas e socialistas, assim como vantagens sociais e comunitárias que o capitalismo e o socialismo não podem nem começar a atingir.



segunda-feira, 27 de maio de 2013

O Brasil não precisa de "controle de natalidade"

Não, não é uma afirmação gratuita, nem baseada só em convicções filosófico-religiosas. A informação é do próprio governo. (O interessante é que quando escrevia esse artigo, Papa Francisco tocou no tema). Não precisa muito para os anacrônicos malthusianos voltarem à tona. Como o Brasil é atrasado. Na Europa, a queda da natalidade é um problema seriíssimo. Os governos se esforçam para incentivar as mulheres a terem filhos. Aqui, ainda achamos que é uma evolução enorme trocar as crianças pelos bens materiais, pelo conforto além do necessário.

Pois bem, o IPEA, em seu relatório baseado no último censo do IBGE, alerta para as consequências da queda da taxa de natalidade na população brasileira. "Muita gente fala em controle da natalidade, mas a verdade é que a visão de que as brasileiras têm muitos filhos é equivocada. A opinião pública tem uma percepção distorcida da realidade." Ana Amélia Camarano, pesquisadora do IPEA.

Resumidamente, será um problema econômico. As mulheres brasileiras têm menos que dois filhos, em média. Seguindo nesse ritmo, vamos diminuir nossa população a ponto de faltarem trabalhadores. A ponto de todos terem que trabalhar cada vez mais para se aposentar, pois não há sistema que aguente. Um "resumo maior" pode ser conferido aqui.

Hoje é quase uma afronta dizer a uma mulher que ela deveria ter mais que um filho. Enquanto isso, vamos morrendo de tão gordos. E então, vamos fazer o quê? Trazer pra cá, como na Europa, os muçulmanos, que se reproduzem como coelhos? Os médicos cubanos? Daí, vamos pensando, com Drummond, um dia vamos dizer: "E acaso existirão os brasileiros?"

quarta-feira, 15 de maio de 2013

O maior ídolo da juventude é a juventude



A primeira noção de ídolo e idolatria que todos temos é aquela que a Bíblia nos conta, do povo judeu que fez para si uma escultura e começou a prestar culto a ela, provocando a fúria de Moisés. O exemplo clássico de desobediência ao primeiro mandamento da lei mosaica é muito claro e evidente - colocaram uma outra coisa qualquer no lugar de Deus. Daí para percebermos quem eram os ídolos nas sociedades que endeusavam seus imperadores não é muito difícil. Os conflitos entre as religiões que aceitam imagens e as que não aceitam vêm se arrastando por séculos.

Na sociedade atual, muito se fala de ídolos, do esporte, da música, da política. Os ídolos são propostos como modelos a serem seguidos, de uma maneira implícita. É quase um pecado estar alheio a eles, não ter uma opinião sobre o artista tal, sobre o esportista xis. Mas, não são eles os ídolos atuais.

A ideia que está por trás de toda a idolatria moderna é a ideia de renovação constante. Pode parecer estranho, mas é porque nos acostumamos a pensar que renovar é sempre bom. Mas não é. Nem tudo que é velho é ruim. Nem tudo que é novo é bom. Na verdade, tenho reparado com o passar dos meus anos que muito do que fiz de errado ou inconsequente teve um componente muito forte de inexperiência. Essa é a principal desvantagem de ser jovem. O caso é que martelaram tanto em nossas cabeças que ser jovem é muito bom, que hoje ninguém quer envelhecer, como se isso não fosse uma coisa natural e desejável até. Mas o que a turma do forever young não percebe é que essa música já está velha. Esse papo de eternamente jovem já deu o que tinha que dar.

Não podemos nos esquecer que foi a juventude que apoiou o nazismo. Foi a juventude que tomou o poder na Rússia e espalhou seus erros pelo mundo. Foi a juventude que entrou nas drogas e subsidiou uma indústria da morte que até hoje produz frutos muito podres. Foi a juventude que protagonizou uma revolta total contra toda e qualquer moralidade e hoje não sabe mais se defender de si mesma. 

Foram os jovens que fizeram as revoluções, mas agora as revoluções estão trazendo um gosto de ressaca na boca de uma festa que eu tenho a impressão que cheguei no final. Já ouvi várias vezes de pessoas que sentem que têm saudade de um tempo que não viveram. Como se os anos 60 e 70 fossem o paraíso na Terra, o novo Jardim do Éden que não volta mais. Temos até certo orgulho de sermos imorais, de não sabermos latim nem música clássica, de não entendermos de filosofia e não tirarmos notas boas. Mas, velhos, não. Velhos, nunca. Isso é coisa de derrotados. "Então serão como deuses."Gn 3,5. Numa incrível inversão dos sentidos, o pecado mais mortal na atualidade é ser velho, ou seja, não ser deus. O deus atual é o "jooovem". É por isso que tem sessentão por aí saindo com mocinha de vinte e poucos, comprando carrão e gastando tudo em viagra, e achando bonito e contando vantagem. É por isso que os cabelos não ficam mais brancos, as rugas são vergonha. E isso em nome da liberdade. 

Mas, foi um velhinho cambaleante com uma cicatriz de bala no peito e uma roupa branca que levou bilhões a pedirem paz e pararem para pensar no que estavam fazendo. Daí vem outro velhinho e nos alerta, na sua lucidez espiritual, que essa escravidão é enganadora. Que relativizar tudo é uma coisa absolutamente irracional. Que não ter referenciais seguros nos deixa à deriva. 

Enfim, o maior ídolo da juventude é a juventude. O que se espera dos jovens, afinal? Que cresçam. Que se tornem adultos, conscientes, responsáveis, fortes, decididos. Eu sei que esse discurso pode parecer amargo ao nosso paladar viciado em Coca-Cola e Rede Globo. Mas amadurecer nos torna mais doces. As frutas mais doces são as mais maduras. Que possamos ser a juventude que vai restaurar a família, a busca da beleza e do bem nas artes, na cultura, no pensamento, o verdadeiro e sublime culto ao verdadeiro e único Deus. É essa a minha razão de ser, a minha luta, o meu sacrifício, a minha alegria, a minha paz, o meu testemunho. Afinal, contemplando a eternidade, não há jovens nem velhos, mas quem tem seus olhos focados no essencial da vida, ou não.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

A Música como uma Força Formadora do Caráter

Traduzido de: http://www.catholiceducation.org/articles/arts/al0529.htm


A Música como uma Força Formadora do Caráter

PETER KWASNIEWSKI

Ninguém que compreenda as experiências de melodia, harmonia e ritmo irá duvidar de seu valor. 

Arvo Pärt

O grande filósofo Roger Scruton observa:
"Ninguém que compreenda as experiências de melodia, harmonia e ritmo irá duvidar de seu valor. Elas não são somente a destilação de séculos de vida social: são também formas de conhecimento, que trazem a competência de atingir algo fora de nós através da música. Através de melodia, harmonia e ritmo, entramos em um mundo onde outros existem à parte de si, um mundo que é cheio de sentimento, mas também ordenado, disciplinado mas livre. É por isso que a música é uma força formadora de caráter e o declínio do gosto musical é um declínio na moral." ( A Estética da Música, 502)
Na teoria ética de Aristóteles, podemos encontrar esse princípio cardeal: "Como um homem é, assim o bem parecerá para ele." Nossa verdadeira habilidade em perceber o bem, o verdadeiro, o belo, em reconhecê-los quando os encontramos depende da formação a que nossas faculdades foram submetidas. Como um autor protestante, Frank Gaebelein, admite:
A chave para as melhores coisas na música cristã é a audição habitual da grandiosidade musical não só na escola, não só na faculdade e no Instituto Bíblico, mas na escola dominical também. Pois a música que as crianças ouvem exercita uma influência formativa do seu gosto. Nem mesmo as menores crianças podem ser seguramente alimentadas com uma dieta de lixo musical.
A maturidade espiritual do cristão está muito conectada à habituação à nobreza das finas artes. Aprender a distinguir entre a beleza e a dignidade e a feiura e banalidade é um hábito que deve ser adquirido como obedecer aos pais e ser responsável por suas ações. É um hábito tanto quanto temperança, bravura, justiça e prudência. Pensar que as crianças irão automaticamente crescer e se tornarem adultas que têm um senso do que é e do que não é apropriado, nobre e belo é tão ingênuo quanto pensar que elas irão se comportar moralmente ou orar a Deus sem disciplina ou educação religiosa.


Nosso potencial humano para a beleza é vasto. Na realidade da música, somente, considere as esplêndidas obras primas deixadas a nós por tais como Giovanni Pierluigi da Palestrina, Tomas Luis de Victoria, Johann Sebastian Bach, Georg Frideric Handel, Wolfgang Amadeus Mozart, Ludwig van Beethoven, e para chegar rápido em nosso tempo, Arvo Pärt. Exceto em alguns raros círculos, esse potencial humano é, nos dias de hoje, horrivelmente subestimado e subdesenvolvido. Os jovens americanos não são mesmo avisados do potencial artístico de suas almas, nem como produtores nem como receptores do presente da arte. Nós deveríamos estar lhes ajudando de todas as formas que pudéssemos - inclusive treinando estudantes católicos a dar o melhor de seu talento artístico para o Sagrado Sacrifício da Missa, ao menos para apreciar como a missa merece somente o melhor da nossa tradição artística.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Os pilares da descrença - Nietzsche, o autoproclamado AntiCristo

Tradução de: http://www.peterkreeft.com/topics-more/pillars_nietzsche.htm

Friedrich Nietzsche se autoproclamava "o Anti-Cristo", e escreveu um livro com esse título. Ele defendia o ateísmo da seguinte forma: "Eu irei agora provar que não existem deuses. Se há deuses, como eu poderia suportar não seu um deus? Consequentemente, não há deuses."

Ele desprezava a razão, assim como a fé, frequente e deliberadamente contradizendo a si mesmo, dizia que "um escárnio é infinitamente mais nobre do que um silogismo" e apelava para a paixão, retórica e mesmo ódio deliberado  ao invés de razão.

Ele via o amor como o "grande perigo" e a moralidade como a maior fraqueza da humanidade. Ele morreu insano, em um asilo, de sífilis, assinando suas últimas cartas como "O Crucificado". Ele foi adorado pelos Nazistas como seu filósofo semi-oficial.
Mesmo assim, é admirado como profundo e sábio por muitas das maiores mentes do nosso século. Como pode ser?
Há três escolas de pensamento sobre Nietzsche. A mais popular entre os acadêmicos é a escola dos "Nietzscheanos gentis", que defendem que Nietzsche era, de fato, um cordeiro em pele de lobo; que os seus ataques não podiam ser tomados literalmente e que ele era realmente um aliado, não um inimigo, das instituições e valores ocidentais que ele denunciava.
Esses acadêmicos se assemelham aos teólogos que interpretam falas de Jesus como "ninguém vem ao Pai senão por mim" significando "todas as religiões são igualmente válidas", e "quem se casa com uma mulher divorciada comete adultério" significando "deixem seus divórcios serem criativos e razoáveis."
Segundo, há os "horrível, horrível" Nietzscheanos. Eles ao menos o concediam honra por levá-lo a sério. São típicos nas notas de rodapé em um velho livro texto católico de filosofia moderna, que dizia somente que Nietzsche existiu, era um ateu e morreu insano -- um fato que poderia deixar bem avisado qualquer um que se demorasse em seus livros.
Uma terceira escola de pensamento vê Niezsche como um lobo e não um cordeiro, mas um pensador muito importante porque ele mostra à civilização ocidental seu próprio negro coração e futuro. É fácil fazer de bode expiatório e apontar os dedos para "ovelhas negras" como Nietzsche e Hitler, mas não há um "Hitler em nós mesmos?" (para citar o título de Max Picard)? Nietzsche não deixou o gato sair da sacola? O demoníaco gato que estava escondido na respeitável sacola do humanismo secular? Desde que "Deus está morto", também está o homem, a moralidade, o amor, a liberdade, a democracia, a alma e, por fim, a sanidade. Ninguém mostra isso mais vividamente do que Nietzsche. Ele pode ter sido responsável (muito sem intenção) por muitas conversões.
Os temas principais de Nietzsche podem ser sumarizados pelos títulos dos seus principais livros. Cada um é, de diferentes formas, um ataque à fé. O centro da filosofia de Nietzsche é o mesmo: ele é tão centrado em Cristo como Agostinho era, só que centrava em Cristo como seu inimigo.
O seu primeiro livro, "O Nascimento da Tragédia como o Espírito da Música", sozinho, revolucionou a visão aceita dos antigos gregos como "doces e iluminados", razão e ordem. Para Nietzsche, os poetas trágicos foram os grandes Gregos, e os filósofos, começando com Sócrates, foram os menores, pálidos e desapaixonados. Todo o mundo ocidental que se seguiu a Sócrates e seu racionalismo e moralismo negara o outro lado do homem, negro e trágico.
Niezsche, ao contrário, exaltava a tragédia, o caos, a desordem e a irracionalidade, simbolizada pelo deus Dionísio, deus do crescimento, orgias e bebedeiras. Ele afirmava que Sócrates, ao contrário, havia levado o mundo ao culto de Apolo, deus do sol, luz, ordem e razão. Mas, o destino do deus de Nietzsche, Dionísio, estava prestes a levar o próprio Nietzsche; da mesma forma que Dionísio foi literalmente atormentado pelos Titãs, monstros sobrenaturais do submundo, a mente de Nietzsche vinha sendo quebrada e dividida pelos seus próprios Titãs internos.
"O Uso e o Abuso da História" continuou o tema de Dionísio vs Apolo. O "abuso da história" é (de acordo com Nietzsche) teoria, ciência, verdade objetiva. O uso correto da história é alcançar a "vida". Vida e verdade, fogo e luz, Dionísio e Apoli, vontade e intelecto, são colocados em oposição. Nós vemos Nietzsche sendo dilacerado aqui, pois estas são as duas partes do eu.
"Ecce Homo" foi um desavergonhado egotismo pseudo-autobiográfico. Apesar de ter sido somente um padioleiro na guerra, Nietzsche dizia que era um "presunçoso velho homem de artilharia" adorado por todas as damas. Na verdade, ele era um velho homem solitário que não podia suportar a visão de sangue, um anão emocional empinado como Napoleão. O que mais terrível é que ele voluntariamente abraça sua falsidade e fantasia. É consistente com sua filosofia preferir "qualquer coisa que eleve a vida" à verdade. "Por que não viver uma mentira?" ele pergunta.
"A Genealogia da Moral" afirmava que a moralidade era uma invenção dos fracos (especialmente os judeus, e então os cristãos) para enfraquecer os fortes. Os cordeiros convenceram o lobo a agir como um cordeiro. Isso não é natural, argumenta Nietzsche, e vendo a origem não natural da moralidade nos ressentindo da inferioridade irá nos livrar do seu poder sobre nós.
"Além do Bem e do Mal" é a moralidade alternativa de Nietzsche, ou a "nova moralidade". "Moralidade mestre" é totalmente diferente da "moralidade escrava", ele diz. O que for que um mestre comande é bom pelo simples fato de que o mestre comanda. Os fracos cordeiros têm uma moralidade de obediência e conformidade. Os mestres têm o direito natural de fazer o que eles quiserem, pois desde de que não há Deus, tudo é permissível.

"O Crepúsculo dos Ídolos" explora as consequências da "morte de Deus". (É claro que Deus nunca vive realmente, mas a fé Nele sim. Agora, ela está morta, diz Nietzsche.) Com Deus, morrem todas as verdades objetivas (pois não há nenhuma mente acima da nossa) e os valores objetivos, leis e moralidade (pois não há nenhuma vontade acima da nossa). Alma, livre-arbítrio, imortalidade, razão, ordem, amor - todos essas são "ídolos", pequenos deuses que estão morrendo, agora que o Grande Deus morreu.

O que irá substituir deus? O mesmo ser que irá substituir o homem, o Super-Homem. A obra prima de Nietzsche, "Assim falou Zaratustra", celebrava esse novo deus.
Nietzsche chamava de "Zaratustra" a nova Bíblia, e chamou o mundo a "jogar fora todos os outros livros, pois você tem o meu 'Zaratustra'." Sua retórica é intoxicante e cativou adolescentes por gerações. Foi escrito em somente alguns dias, numa "escrita automática" e frenética, talvez literalmente de inspiração demoníaca. Nenhum livro jamais escrito continha mais arquétipos Junguianos, numa demonstração de imagens do inconsciente como fogos de artifício.

Sua mensagem essencial era a condenação do homem do dia presente como fraco e o anúncio da nova espécie por vir, o Super-Homem, que viveria pela "moralidade mestra" ao invés da "moralidade escrava". Deus está morto, longa vida ao novo deus!
Mas, em "O retorno eterno", Nietzsche descobre que todos os deuses morrem, mesmo o Super-homem. Ele acreditava que toda a história necessariamente se movia em um círculo sem fim, repetindo todos os eventos passados - "Não há nada de novo debaixo do sol." Nietszche deduziu essa conclusão de duas premissas: (1) um monte finito de matéria e (2) um monte infinito de tempo (desde que não há criador e nem criação); então toda combinação possível de partículas elementares, cada palavra possível, ocorre um número infinito de vezes, dado um tempo infinito. Tudo, mesmo o Super-homem, irá retornar novamente a ser poeira, desenvolver vermes, macacos, homens e Super-homens, de novo e de novo.
Ao invés de desesperar, como o Eclesiastes, com essa nova história sem esperança, Nietzsche percebeu a oportunidade de celebrar a irracionalidade da história e o triunfo da "vida" sobre a lógica. A virtude suprema seria a coragem da vontade em afirmar essa vida sem sentido, além de qualquer razão, por razão alguma.

Mas, no último trabalho de Nietzsche, "A vontade de poder", a ausência de um fim ou objetivo aparece como demoníaca, e espelha o caráter demoníaco da mente moderna. Sem um Deus, um céu, uma verdade, ou uma divindade absoluta para se almejar, o significado da vida se torna simplesmente " a vontade de poder". O poder se torna seu próprio fim, não um meio. A vida é como uma bolha, vazia por dentro e por fora; mas o seu significado é uma autoafirmação, egoísmo, estourar a sua bolha, expandir o seu ego sem sentido até o vazio sem sentido. "Somente a vontade," é o aviso de Nietzsche. Não interessa o que você deseja ou porquê.

Nós estamos agora em uma posição de ver porque Nietzsche é um pensador tão crucial e importante, não apesar, mas por causa de sua insanidade. Ninguém, na história, exceto possivelmente o Marquês de Sade, fez tão clara, cândida e consistentemente uma alternativa completa ao Cristianismo.
As sociedade e filosofias pré-cristãs (pagãs) eram como virgens. As sociedades e filosofias pós-cristãs (modernas) são como divorciadas. Nietzsche não é um pagão pré-cristão, mas o essencial e moderno pós-cristão e anti-cristão. Ele viu corretamente Cristo como seu inimigo e rival. O espírito do Anti-Cristo nunca recebeu uma formulação tão completa. Nietzsche foi não somente o filósofo favorito da Alemanha Nazista, foi o filósofo favorito do inferno.

Podemos agradecer a tolice de Satã em "tirar sua máscara" nesse homem. Como o Nazismo, Nietzsche pode nos mostrar o inferno fora de nós e nos ajudar a salvar nossa civilização ou mesmo nossas almas por nos fazer ver o terror antes que seja muito tarde.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Chesterton e o casamento gay - Não é gay e não é casamento

Tradução de: http://www.catholiceducation.org/articles/marriage/mf0167.htm

G.K. Chesterton: Não é Gay, e não é casamento
DALE AHLQUIST

Chesterton esteve constantemente certo em seus pronunciamentos e profecias porque ele entendeu que qualquer coisa que atacasse a família era ruim para a sociedade.

G.K. Chesterton
1874-1936

Uma das questões populares no tempo de Chesterton era 
"controle de natalidade".  Ele Não só objetava à ideia, ele 

objetava ao próprio termo porque ele significava o oposto do que dizia. Não significava natalidade, nem controle. Eu só posso imaginar que ele teria as mesmas objeções ao "casamento gay". A ideia é errada, mas o nome também. Não é gay e não é casamento. (NT: "gay" em inglês significa originalmente "feliz, alegre")


Chesterton esteve constantemente certo em seus pronunciamentos e profecias porque ele entendeu que qualquer coisa que atacasse a família era ruim para a sociedade. É por isso que ele falou contra a eugenia e a contracepção, contra o divórcio e o "amor livre" (outro termo que ele não gostava, por sua desonestidade), mas também contra a escravidão salarial, a educação estatal compulsória e mães contratando outras pessoas para fazer o que as mães são boas em fazer por si próprias. É seguro dizer que Chesterton permaneceria contra toda as tendências e novidades que se espalham como praga nos dias de hoje porque cada uma dessas tendências e novidades enfraquece a família. O Grandes Governo tenta substituir a autoridade familiar, e o Grande Negócio tenta substituir a autonomia da família. Há uma constante pressão cultural e comercial sobre pais, mães e filhos. Eles são minimizados e marginalizados e, sim, ridicularizados. Mas, como Chesterton diz, "Esse triângulo de truísmos, de pai, mãe e filhos, não pode ser destruído; só podem ser destruídas as civilizações que o negligenciam."

O último ataque à família não nem o último nem o pior. Mas tem um valor chocante, em que pese o processo de dessensibilização que a indústria da informação e do entretenimento nos trouxeram nos últimos anos. Os que tentaram falar contra a normalização do anormal encontraram "insultos ou silêncio", como Chesterton foi quando tentou argumentar contra as novas filosofias que eram promovidas pelos maiores jornais em seus dias. Em 1926, ele advertia, "A próxima grande heresia será um ataque à moralidade, especialmente a moralidade sexual." Seu aviso passou despercebido, e a moralidade sexual decaiu progressivamente. Mas, permitamo-nos lembrar que isso começou com o controle da natalidade, que é uma tentativa de criar o sexo como um fim em si mesmo, trocando um ato de amor por um ato de egoísmo. A promoção e aceitação do sexo sem vida, estéril e egoísta progrediu logicamente para a homossexualidade.

Chesterton mostrou que o problema da homossexualidade como uma inimiga da civilização é bem antigo. Em The Everlasting Man, ele descreveu o culto à natureza e a "mera mitologia" que produziu a perversão entre os gregos. "Assim como se tornaram antinaturais por cultuarem a natureza, se tornaram verdadeiramente anti-humanos por cultuarem o homem." Qualquer jovem, ele diz, "que tenha a sorte de crescer são e simples" tem naturalmente repulsa à homossexualidade porque "não é verdade para a natureza humana ou para o senso comum". Ele argumenta que se tentarmos agir com indiferença sobre isso, estaremos nos enganando a nós mesmos. É a "ilusão da familiaridade", quando uma "perversão se torna uma convenção".

Em Hereges, Chesterton quase faz uma profecia sobre o uso errado da palavra "gay". Ele escreve sobre "a muito poderosa e triste filosofia de Oscar Wilde. É a religião do carpe diem." Carpe diem significa "aproveite o dia," faça o que quiser e não pense nas consequências, viva somente o momento. "Mas a religião do carpe diem não é a religião de pessoas felizes, mas de pessoas muito infelizes." Há uma falta de esperança, assim como há falta de felicidade nela. Quando o sexo é somente um prazer momentâneo, quando não oferece mais nada além de si mesmo, não traz contentamento. É literalmente sem vida. E Chesterton escreve sobre isso em seu livro São Francisco de Assis, no momento em que o sexo deixa de ser um servo, se torna um tirano. Essa é, talvez, a mais profunda análise do problema dos homossexuais: eles são escravos do sexo. Eles estão tentado "perverter o futuro e desfazer o passado." Eles precisam ser libertados.

O pecado tem consequências. Ainda que Chesterton sempre sustente que devemos condenar o pecado e não o pecador. E ninguém demonstrou mais compaixão pelos caídos do que G.K. Chesterton. De Oscar Wilde, a quem ele chamava "o Chefe dos Decadentes", ele dizia que Wilde cometeu um "erro monstruoso" mas também sofreu monstruosamente por isso, indo para uma terrível prisão, onde foi esquecido por todas as pessoas que, antes, brindaram a sua cavalheira rebelião. "A sua vida foi completa, no sentido terrível de que a sua vida e a minha são incompletas, desde que não paguemos por nossos pecados. Neste sentido, alguém pode chamá-la de vida perfeita, como alguém fala de uma perfeita equação; ela se anula. De um lado, nós temos o saudável horror do mal; do outro, o saudável horror da punição."

Chesterton se referia ao comportamento homossexual de Wilde como um pecado "altamente civilizado", algo que era a pior aflição entre as classes ricas e cultas. Era um pecado que nunca foi uma tentação para Chesterton, e ele dizia que não era uma grande virtude para nós nunca cometer um pecado do qual nunca fomos tentados. Há uma outra razão pela qual devemos tratar nossos irmãos homossexuais com compaixão. Nós conhecemos nossos próprios pecados e fraquezas suficientemente bem. Philo de Alexandria dizia, "Seja gentil. Todos que você conhece estão travando uma terrível batalha." Mas a compaixão não pode nunca se comprometer com o mal. Chesterton pondera que nossa verdade não pode ser impiedosa, nem nossa pena ser mentirosa. Homossexualidade é uma desordem. É contrária à ordem. Os atos homossexuais são pecaminosos, ou seja, são contrários à ordem de Deus. Eles não podem nunca ser normais. E, pior ainda, não podem nunca ser equilibrados. Como o grande detetive de Chesterton, Padre Brown, dizia: "Os homens podem manter um determinado nível de bondade, mas nenhum homem até hoje foi capaz de manter um determinado nível de maldade. Esse caminho leva cada vez mais para baixo."

Casamento é entre um homem e uma mulher. Isso é ordem. E a Igreja Católica ensina que isso é uma ordem sacramental, com implicações divinas. O mundo veio zombando do casamento de maneira que agora está culminando como uniões homossexuais. Mas são os homens e mulheres heterossexuais que pavimentaram o caminho para esse decaimento. O divórcio, que é uma coisa anormal, agora é tratado como normal. A contracepção, outra coisa anormal, agora é tratada como normal. O aborto também não é normal, mas é legal. Fazer o "casamento" homossexual legal não o fará ser normal, mas irá contribuir para a confusão dos nossos tempos. E irá contribuir para a espiral de decadência da nossa civilização. Mas a profecia de Chesterton permanece: "Nós não seremos capazes de destruir a família. Nós iremos meramente destruir a nós mesmos por negligenciar a família."