terça-feira, 9 de julho de 2013

Nem capitalismo, nem socialismo -- O que é distributismo?



O que é Distributismo?

O Distributismo tem suas raízes nas teorias econômicas e sociais articuladas nos documentos dos pontífices católicos, começando com o Papa Leão XIII, na "Rerum Novarum". Essas encíclicas sociais trazem imperativos nas transações econômicas e suas relações com o trabalho, solidariedade, salários, a larga difusão da propriedade, e os limites apropriados à tecnologia. O Distributismo é um sistema econômico que concorda com os princípios desses documentos, e é centrado na mais vasta posse de propriedade possível como a melhor garantia da liberdade política e econômica. Uma família que tenha sua própria terra e suas próprias ferramentas pode levar sua vida sem ser dependente de terceiros por emprego. Assim, o Distributismo almeja estender a propriedade para quantos forem possíveis, e acabar com a concentração da propriedade por poucos capitalistas ou pelo Estado.

O que são os 'meios de produção'?

Meios de produção são terra, ferramentas e equipamentos necessários ao trabalho para transformar materiais brutos em bens e serviços. Como riqueza (bens ou serviços) somente é possível pela combinação dos meios de produção, trabalho e matérias primas, acreditamos que é melhor quando esses são adquiridos cooperativamente (de posse do trabalhador) ou trabalhados inteiramente pela família.

Vocês são Capitalistas ou Socialistas?

Nenhum dos dois. Capitalismo - ou proletarianismo - é um sistema baseado na maximização dos resultados dos investimentos, e busca isso à expensa do trabalho e do bem comum. O Socialismo busca eliminar a propriedade e colocá-la nas mãos de um governo impessoal e centralizado. Os dois sistemas - capitalismo e socialismo - limitam a real propriedade na prática. A única diferença entre um estado socialista e um capitalista é se o poder está concentrado em poucas mãos privadas ou burocráticas.

Então vocês não suportam um "Grande Governo"?


Distributistas são descentralistas que acreditam que a maioria das funções organizacionais (negócios, governo, ou trabalho) deveriam ocorrer no menor nível de competência possível (subsidiariedade). Instituições como cooperativas locais e governos existem para frear controles em larga escala, sejam eles burocráticos ou comerciais.


O que tem a ver com justiça?


Desde os tempos de Aristóteles, os filósofos e economistas consideram que a justiça é um elemento integral do mercado; um fator a ser considerado antes que as trocas se efetivem. Todavia, durante o período da história conhecido como o Iluminismo, surgiu o equívoco de que a justiça social viria somente das "forças do mercado", ou do planejamento central pelo governo. Nesse caso, o homem se torna uma mera engrenagem na máquina da economia; ele é reduzido a uma insignificância material que desconsidera sua natureza decaída ou telos (propósito). Assim, enquanto sabemos da dependência do homem dos bens materiais, reconhecemos que o comércio e as políticas sociais devem estar subordinados à sua vocação virtuosa.


Não seria o Distributismo menos eficiente, nos tornando todos mais pobres?

Apesar do capitalismo se dizer altamente "eficiente", ele não funciona tão bem sem massivas despesas e intervenções governamentais. Os distributistas afirmam que a propriedade produtiva é uma geradora genuína de riqueza, porque serve e sustenta a família materialmente (comida, roupa, e abrigo), e cultiva a alma para o trabalho. Ademais, nós enfatizamos que a propriedade distribuída é na verdade mais eficiente e menos dependente de enormes conglomerados governamentais ou corporativos. A propriedade significa liberdade para o dono em relação à volatilidade financeira, assim como, da perspectiva do dono da casa, a terra transcende os valores de mercado devido à sua indispensabilidade para a estabilidade da família.

Qual é a sua posição em relação à nossa crise econômica atual?

Salários estagnados, usura, especulação, derivativos, desperdício e dívidas dos consumidores são somente uma parte dos problemas que transformaram uma terra de pequenos negócios e pequenos fazendeiros em uma nação dividida em corporações entregando suas responsabilidades aos contribuintes e um governo obrigado a ver as coisas de outra forma enquanto os empregos são mandados para o exterior. Com relativamente poucos produtores e mais produção externa, a confiança da família em obter comida saudável, salários justos, casa própria, plano de saúde, e educação apropriada para seus filhos através do emprego, está entrando em colapso.

Como o distributismo planeja nos ajudar a restabelecer a sanidade econômica?

Nós acreditamos que um renascimento da economia local irá reparar o dano moldado pelas corporações que pressionam o governo por maiores subsídios do erário público. O distributismo traz uma economia humana e uma política social investida nas necessidades da família através da posse da propriedade e tecnologia sob medida. Nossos objetivos incluem a restauração do sistema de cooperativas, o apoio a negócios familiares e de posse dos trabalhadores, empréstimos de micro-crédito, agricultura suportada pela comunidade, e associações preocupadas em implementar programas de administração vigorosos. Nós suportamos iniciativas políticas para favorecer políticas de taxação diferenciadas, assistência legal para os negócios baseados em casa, assim como a revisão da contabilidade e das práticas bancárias. Pretendemos atingir nossos objetivos formando um movimento popular de acadêmicos e homens leigos trabalhando juntos para criar seções regionais dedicadas à implementação do programa distributista.


Isso tudo não é muito utópico?

Não, o distributismo é um sistema prático, que é validado por vários exemplos de empresas distributistas em funcionamento; em escala pequena, existem milhares de companhias baseadas em casa e de posse dos seus trabalhadores, bancos de micro empréstimos, uniões de crédito, e companhias de seguros; em larga escala, há a Cooperativa de Mondragón na Espanha, uma das mais bem sucedidas cooperativas na Europa, e a economia distributista de Emilia-Romagna (Bologna) na Itália, onde mais de 45% do PIB vem das cooperativas, e que se vangloria de um padrão de vida que é o dobro do restante da Itália e um dos maiores da Europa. As economias distributistas e companhias têm uma vantagem competitiva inerente sobre suas contrapartes capitalistas e socialistas, assim como vantagens sociais e comunitárias que o capitalismo e o socialismo não podem nem começar a atingir.



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