http://www.catholiceducation.org/articles/apologetics/ap0494.htm
As "Mudanças" no Catolicismo
FATHER JAMES V. SCHALL, S.J.Desde que Jorge Bergoglio se tornou Papa, tem havido incontáveis discussões sobre "mudança" na Igreja.
Nada do que o Papa fala é ignorado, exceto talvez quando ele reafirma que nada que é básico no ensimento cristão será ou pode ser mudado. Sua oposição ao aborto é conhecida mas não muito mencionada quando ele fala dela. Sua pergunta é famosa: "Quem sou eu para julgar?". Mas ele pergunta isso somente depois de pressupor que uma pessoa sinceramente deseja seguir a vontade de Deus de todas as formas. Muitos concluem desta maneira de colocar as coisas que o Papa está para aprovar o "casamento" gay ou o estilo de vida homossexual. Mas esse tipo de mudança não é a que ele pretende. Ele só está interessado em tornar mais fácil para os que desejam endireitar suas vidas que o façam, mas não que isso será sempre fácil. Que é de Deus o julgamento final em tudo é o ensinamento católico comum, não uma nova doutrina que o Papa Francisco trouxe de Buenos Aires.
A palavra "mudança" tem profundas raízes filosóficas. Do "Nada muda" de Parmênides ao "Tudo muda" de Heráclito, ao "Algumas coisas mudam, outras não" de Aristótels, conseguimos cobrir todo um campo de possibilidades. Mudança significa que alguma coisa se torna diferente do que foi, de uma forma ou de outra. Aristóteles falava sobre mudanças acidentais - o crescimento da barba de alguém, ou sua audição se tornando fraca. O sujeito da mudança - a pessoa, João - depois da mudança permanecia o que fora. Tais mudanças em quantidade, qualidade, ou capacidade acontecem a todo momento. Elas são parte da vida diária.
Aristóteles também falava sobre mudanças substanciais. Quando um homem morre ou uma estrela explode, tais mudanças removem o sujeito mesmo das mudanças acidentais. O que nos resta a fazer é nos familiarizar com ambos os tipos de mudança. Elas acontecem ao redor de nós todo o tempo. Ainda, nós também vivemos em um mundo em que outras coisas não mudam de jeito nenhum. Mesmo que coelhos venham em diferentes cores ou possam perder uma ou duas pernas para as raposas, a ideia de o-que-é-um-coelho não muda. Mesmo que nenhum coelho real existisse, ainda assim poderíamos saber o que é um coelho. Coisas matemáticas não mudam. Elas são o que são. Deus não muda. Princípios não mudam. Porque nós seres humanos podemos conhecer coisas que não mudam, isso significa que nossa almas e intelecto, como Platão pensou, são imortais; senão não poderíamos conhecer coisas que não mudam.
Cada pessoa humana, aliás, é única. Não pode haver duas pessoas absolutamente idênticas, mesmo em um mundo de gêmeos e clones. Essa identidade pessoal significa que o mundo está cheio de pessoas que permanecem o que são. João é sempre João, Maria é sempre Maria, apesar de muitos desenvolvimentos e mudanças durante a vida. E mesmo com a morte, ninguém muda. Cada uma dessas pessoas, em sua passagem pelo mundo, decide livremente como irá finalmente mudar a si mesmo para ser para sempre o que é.
Cada ser humano é responsável pelas mudanças que o fazem um bom ou um mau ser humano. Cada pessoa finalmente decide, em outras palavras, como ele irá mudar permanentemente a sua orientação básica para Deus ou para si mesmo. Ele irá mudar, claro, no sentido de se tornar mais o que escolheu ser. Mas ninguém escolheu a existência, em primeiro lugar. Esse o-que-é-João-e-não-outro é dado a cada pessoa. Sua existência como João e não outra pessoa pode ser uma escolha, mas é uma escolha divina, não uma escolha humana. A existência de um ser humano, o seu "o que é", só pode ser vista como um dom, não como algo escolhido.
"Mudanças" acidentais na Igreja
Na questão se o catolicismo "muda", novamente fazemos as distinções básicas - substancialmente, não; acidentalmente, sim. Cardeal John Henry Newman tem uma fala famosa sobre o "desenvolvimento da doutrina". Por esta terminologia, ele não queria dizer que os ensinamentos originais de Cristo mudaram. Ele queria dizer que ele não mudam. Mas é sempre possível passá-los mais claramente ou entendê-los mais profundamente quando aprendemos outras coisas e temos mais experiências de vida.
A sentença mais conhecida sobre a Igreja é que "as portas do inferno não prevalecerão sobre ela." Essa posição é tomada para dizer que o que foi revelado por Cristo para nós irá ao mesmo tempo existir e permanecer o mesmo por todas as eras. A Igreja não existe para trazer "novas" práticas ou ensinamentos tão frequentemente. Ao contrário, ela existe para ter certeza de que, passadas as eras, o que Deus deseja que o homem saiba permanecerá disponível e inteligível para eles, sem mudanças essenciais. Essa visão significa que, através dos tempos, nas suas atividades ordinárias, a Igreja deveria perceber que o que Cristo ensinou no primeiro século também foi ensinado sem mudança em cada século posterior, inclusive o nosso.
Poderíamos objetar que ninguém gosta de ouvir sempre o mesmo papo antigo sempre. O fato é que a maioria das pessoas nunca realmente ouviram o que a revelação ensina. Frequentemente, eles simplesmente se recusam a ouvir ou são prevenidos a não ouvir pela política local, religião, ou costume. Nós todos, sem dúvida, buscamos algo novo e impressionante. Mas relembramos que os ensinamentos da Igreja não são seus. São chamados "boa nova" por uma razão. Nós começamos a ver porque Deus foi tão insistente que Cristo falou em nome do seu Pai quando considerava as alternativas. De fato, a história da heresia, mesmo hoje em dia, apesar de não usarmos mais essa nobre palavra, é uma constante apresentação do pensamento e da vida humana. Ela sustenta uma alternativa ao preciso entendimento de Cristo sobre o homem, o cosmos, e Deus. Em retrospecto, parece bem claro que a única maneira que Deus teria para garantir que os seres humanos não alterassem a essência do que queria que soubessem era garantir Ele mesmo.
O trabalho do papa não é justificado pela sabedoria de suas "mudanças". Ao contrário, seu propósito primário é não mudar. Frequentemente a nossa mentalidade é que nós "estagnamos" se não mudamos. No caso da Igreja, ela "estagna", se ela muda o que ensina ou pratica. Nós deveríamos estar preparados para entrar em qualquer igreja católica em qualquer tempo da história ou em qualquer lugar e encontrar exatamente o que nos foi revelado através de Cristo. A Revelação foi feita para nos dizer, a cada um, o que precisamos saber para nossa salvação, ambos o que é verdadeiro e o que precisamos fazer.
Na superfície, ser ensinado que em um mesmo Deus há uma vida de três diferentes pessoas, o Pai, o Filho, e o Espírito, e que uma dessas Pessoas, o Filho, o Logos, se fez homem para nos redimir, é quase uma tarefa impossível para os padrões humanos. Nenhum ser humano teria feito o que Deus queria desta forma. A noção da redenção pela cruz é definitivamente improvável. E há este detalhe sobre como viver vidas justas e boas, de ser julgados e responsabilizados por nossas vidas diante de um padrão, que parece nos impedir de "ser nós mesmos". O fato é que o caminho da cruz é a única maneira que temos de ser o que fomos feitos para ser. A maravilha do catolicismo é que não poderíamos pensar em um sistema melhor para nós mesmos.
Como frequentemente é apontado, a Igreja é a maior instituição na civilização que mantém que a verdade existe nas coisas, inclusive nos pensamentos humanos. |
Tudo que poderíamos pensar como uma alternativa para o que Deus revelou já foi tentado uma vez ou outra. O que chamamos "multiculturalismo" hoje significa que todas essas "alternativas" ao catolicismo são igualmente boas. Não podemos julgar entre elas porque não temos "critério", uma vez que rejeitamos a revelação e as bases para sua verdade. É interessante refletir em por quê os homens do nosso tempo têm tanta aversão à verdade. Frequentemente, o que está por trás de demandas por "mudanças" na Igreja é precisamente este relativismo que quer que a Igreja abaixe o tom ou transforme o seu depósito de verdades no que os homens propuseram.
Somos ensinados que não importa o que acreditamos ou fazemos. Somos todos iguais. Todos temos o "direito" de definir nossa própria felicidade. Nós todos temos o mesmo destino, não importa o que fazemos ou pensamos. Não há julgamento final. Católicos deveriam sustentar, ao contrário, que é um sinal de humildade reconhecer que a verdade de Deus é melhor para os homens do que qualquer "verdade" inventada pelos homens. Mas desde que afirmamos que criamos nosso próprio mundo, se torna um ato de orgulho negar que qualquer verdade possa existir além da nossa própria.
E é essa última "mudança", para um mundo do nosso próprio feitio, que muitos querem que tome lugar dentro da Igreja. Como frequentemente é apontado, a Igreja é a maior instituição na civilização que mantém que a verdade existe nas coisas, inclusive nos pensamentos humanos. Queremos uma Igreja "mudada" que não pense que seus ensinamentos ou práticas são de origem divina. Queremos uma filosofia que não é enraizada na razão. Queremos uma Igreja que não clame que isso é verdade. Quando isso acontece - e muitos pensam que estão vendo isso acontecer - podemos dar as boas vindas ao "mundo moderno" para esses obstinados católicos. Então serão cidadãos leais que não pensam que o que é revelado é realmente verdadeiro, mas somente uma maneira de viver na prática igual em dignidade e propósito a qualquer outra.
Então, no final, algo está em jogo nessas difundidas e insistentes discussões por "mudanças" na Igreja. Uma vez que todas as mudanças "cosméticas" que o Papa Francisco deseja forem feitas, porém, a Igreja continuará ensinando exatamente as mesmas coisas que sempre ensinou. Para essa "não-mudança" final, eu suspeito, somente duas alternativas são possíveis - conversão ou perseguição. Isso está implícito nas Escrituras. São Paulo escreve aos Coríntios que "em um piscar de olhos, nós estaremos todos transformados."(1 Cor 15:51-52) Nós seremos "mudados" para aquilo que fomos projetados para ser desde o início. Essa última "mudança", efetivada pelo Senhor e não nós mesmos, é a que poucos querem ouvir sobre, pois isso requer a admissão de que a verdade e a conversão a ela são o coração da realidade humana.
E é essa última "mudança", para um mundo do nosso próprio feitio, que muitos querem que tome lugar dentro da Igreja. Como frequentemente é apontado, a Igreja é a maior instituição na civilização que mantém que a verdade existe nas coisas, inclusive nos pensamentos humanos. Queremos uma Igreja "mudada" que não pense que seus ensinamentos ou práticas são de origem divina. Queremos uma filosofia que não é enraizada na razão. Queremos uma Igreja que não clame que isso é verdade. Quando isso acontece - e muitos pensam que estão vendo isso acontecer - podemos dar as boas vindas ao "mundo moderno" para esses obstinados católicos. Então serão cidadãos leais que não pensam que o que é revelado é realmente verdadeiro, mas somente uma maneira de viver na prática igual em dignidade e propósito a qualquer outra.
Então, no final, algo está em jogo nessas difundidas e insistentes discussões por "mudanças" na Igreja. Uma vez que todas as mudanças "cosméticas" que o Papa Francisco deseja forem feitas, porém, a Igreja continuará ensinando exatamente as mesmas coisas que sempre ensinou. Para essa "não-mudança" final, eu suspeito, somente duas alternativas são possíveis - conversão ou perseguição. Isso está implícito nas Escrituras. São Paulo escreve aos Coríntios que "em um piscar de olhos, nós estaremos todos transformados."(1 Cor 15:51-52) Nós seremos "mudados" para aquilo que fomos projetados para ser desde o início. Essa última "mudança", efetivada pelo Senhor e não nós mesmos, é a que poucos querem ouvir sobre, pois isso requer a admissão de que a verdade e a conversão a ela são o coração da realidade humana.
ACKNOWLEDGEMENT
Father James V. Schall, S.J. "On "Changing" Catholicism." Catholic Pulse (January 17, 2014).
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