quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Rabiscando na areia

E Jesus ficou rabiscando na areia. Naquele sacrário, naquele domingo, enquanto tantos gritavam e discutiam quem era o padre, quem era o bispo, que horas era a missa, ia ter missa, não ia ter missa. Naquela Belo Horizonte do meu coração, daqui de outra serra vejo outro horizonte, escuro e feio. Meu coração chora, dói fundo na alma a falta de reverência ao Coração Eucarístico. Vejo ovelhas sem pastor e quero lhes dizer: olhem para Jesus, está ali, sozinho, no altar, é Ele quem cura, é Ele quem salva, é Ele o bom pastor, não importa o padre...

Dominus Vobiscum...

Por que será que não enxergam Jesus ali? Os gritos, porém, são muito altos, tão altos que turvam a vista. E os pagãos exclamam, admirados, veja como não se amam! Discuto com pessoas sobre o caso, as visões são diversas. Fala-se sobre não haver missa, a decisão ser arbitrária, a decisão ser sábia, de não haver colegiado, de não haver compreensão, procura-se um documento, uma norma, uma lei. Quis chamar a atenção para o primeiro mandamento, esquecido naquela missa que não houve, daquele povo que não ouve, falar do que dói no meu coração, por amor àquelas almas que se confessam publicamente contra uma missa. Meu Deus, contra uma missa! Não sei se me fiz entender, não sei se ofendi alguém. Sinto que fui chamado, também, de fariseu. Eu, que não conhecia tal norma, estaria muito apegado às leis e às normas, ao certo e ao errado. Talvez sim, talvez não, posso ter levado para o pessoal, mas isso não importa. Pois naquela discussão Jesus continuou rabiscando na areia, naquele sacrário, naquele altar.

O frei se pronuncia. A Arquidiocese se pronuncia, diz que a responsabilidade é da Província Carmelita. Outros dizem que é do bispo, outros que também não, mas sim do antigo bispo. Os gritos agora estão nas ruas. Jovens me pedem para interceder por eles. Meu coração ainda chora, fica indignado, quer fazer algo.

Confiteor...

Eu tenho cá meus pecados e confesso que, dentre eles, às vezes me apresso em condenar. Meu raciocínio funciona mais rápido que meu coração. Mas quando fico sozinho, também Jesus me diz: "Eu também não te condeno... vai e não tornes a pecar!". Eu também sei que a miséria do pecado é enorme, e fico ansioso para dizer aos irmãos: olhem para Jesus! Não tornem a pecar! Ele é a luz do mundo! O que devo fazer, Senhor? para que eles também creiam? Como chegar e anunciar a boa nova às pessoas? Minha fé ainda é pequena, faz ela maior. Pode haver amor demais em buscar a Verdade com a inteligência que me deste?

Lectio... 

"Se permanecerdes na minha palavra, sereis meus verdadeiros discípulos, conhecereis a verdade e ela vos libertará ... Vós tendes como pai o demônio e quereis fazer os desejos de vosso pai. Ele era homicida desde o princípio e não permaneceu na verdade, porque a verdade não está nele. Quando diz a mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira." "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida." 

O tal frei diz muitas coisas. Dizem, por exemplo, que ensina que Jesus não é Deus. As pessoas discutem: heresia! Deveria ser excomungado! Por isso não vou à igreja! Outros dizem: santo! Gênio! Só vou à igreja por causa dele! Fala-se em diálogo, o que se espera, quem deveria fazer o que, quando, onde. Dizem que isso, que aquilo, que disse, que não disse, disse que me diz....

E Jesus continuou rabiscando na areia do pó daquelas pedras não atiradas, daquele povo que não ouve, daquela missa que não houve. "Mas, antes que Abraão fosse, eu sou." Sim, Ele é! Olhem para Ele!

"A essas palavras, pegaram então em pedras para lhas atirar."

Chamem as autoridades, o bispo, o superior da ordem, tomem uma providência!
"...mas, o que é a verdade?..."
"...não terias autoridade se não fosse meu Pai que te desse..."
"...lavo minhas mãos..."
E convocaram uma assembleia. E preferiram Barrabás.
Todos se esqueceram de Jesus.
E Jesus ficou ali, sozinho, naquele mesmo sacrário, preso, maltratado, humilhado, naquela mesma cruz, naquele mesmo altar, em todos os altares do mundo.

"Pai, perdoai-lhes, pois não sabem o que fazem..."

Agnus Dei, qui tollis peccata mundi, miserere nobis....

Porque não somos dignos, sempre O crucificamos de novo, e de novo, e de novo.
Ainda assim o Senhor ressuscita e nos chama, a todos, outra vez, todas as vezes, em todas as missas, pois só Ele pode nos fazer comunhão. Mas só se quisermos ser humildes, como Ele nos ensinou.

Deo Gratias.

Ite, missa est!


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