sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Desconstruindo argumentos pró-aborto - resumo

1º Mito: são realizados milhões de abortos e muitas mulheres morrem neles.

Mentira estratégica deliberada, confessada por um de seus autores, o médico Bernard Nathanson;
- Estimaram a morte de 200.000 mulheres por ano em todo o Brasil. Todavia, o número de óbitos de mulheres em idade fértil no mesmo período, considerando todas as causas de morte, não passa de 67.000. Estimativa totalmente furada.
- São realizados em torno de 1.000.000 de abortos no Brasil. Nada mais falso. Este número é uma estimativa do número de abortos naturais, não provocados.
- No Brasil, nas estatísticas do DATASUS, em 2011 houve 135 mortes de mulheres após realizarem aborto. Descontando os casos de gravidez ectópica, que não é objeto da legislação para legalização, esse número cai para 9.

Fonte: http://revistavilanova.com/mentiras-sobre-o-aborto-parte-01/

2º Mito: a idéia de que há vida humana desde a fecundação/concepção é um velho dogma religioso/filosófico

- a ideia de que pode-se abortar fetos antes de um determinado período é muito antiga, que só foi abandonada a partir da percepção científica de que depois da concepção se forma um indivíduo com carga genética independente.
- "A vida humana não é um conceito biológico, mas um conceito político…"Os nazistas e comunistas sem dúvida concordariam com o conceito de vida do Prof. Safatle. 

Fonte: http://revistavilanova.com/mentiras-sobre-o-aborto-parte-02/

3º Mito: o objetivo é a legalização do aborto até a 12ª semana de gestação. 

se a lei permitisse o assassinato do bebê de nove meses tirado vivo da barriga da mãe, enquadrando isto dentro das hipóteses de aborto legal, o leitor concordaria?
- no momento em que o aborto é legalizado, tem início todo um movimento de produção normativa jurisprudencial e infralegal no sentido de ampliar mais e mais as suas hipóteses até chegar-se ao infanticídio puro e simples!
- o caso que gerou jurisprudência para liberação do aborto nos EUA foi baseado na alegação falsa de que a mulher teria sofrido estupro (processo Roe v. Wade)
- na prática, a dilatação do conceito de "saúde da mulher" permitiu a legalização do aborto por razões inteiramente subjetivas até o 9º mês de gravidez.
- como matar a criança depois do parto seria homicídio, para gravidez de terceiro trimestre, o "aborto parcial" é uma técnica que consiste em induzir o parto, fazendo-se uma perfuração no crânio antes do nascimento total. Assim, juridicamente falando ocorreu um aborto e não um homicídio.
- o nascimento de crianças sobreviventes dos abortos é um outro problema. Se permitiu que lhes fosse negados água e alimento, morrendo de desnutrição. Um dos grandes defensores destas práticas foi Barack Obama.
a propaganda pró-aborto coloca como ícones casos de mulheres violentadas ou com fetos inviáveis, mas isto é pura retórica. O objetivo é a legalização do aborto sob qualquer pretexto e a qualquer tempo.
- Peter Singer é um defensor do infanticídio e da eutanásia

Fonte: http://revistavilanova.com/mentiras-sobre-o-aborto-parte-03/

4º mito: onde houve a legalização do aborto, seu número diminuiu e ele tornou-se mais seguro em razão da descriminalização.

- não há dados disponíveis que respaldem a afirmação
- caso do Uruguai: estimavam-se 33.000 abortos antes da legalização (estimativa furada, como a de 200.000 no Brasil). Depois da legalização, registraram 4.000. Uma estimativa mais séria contava entre 3.200 a 5.200.
- a tendência nos países onde o aborto é legalizado é a ocultação dos casos. Isso é estimulado pois a subnotificação dos procedimentos permite pagar menos impostos pelas clínicas.
um detalhado estudo global do aborto concluiu que as taxas de aborto são similares em países onde ele é legal e naqueles onde não o é.
- não há nenhum estudo amplo que demonstre a falácia abortista sobre a redução do número de abortos no caso de legalização.
- o movimento pró-aborto mudou sua argumentação dizendo que a criminalização não diminui em nada o número de abortos.
- na verdade, há inúmeros casos de países em que a legalização aumentou o número de abortos. Passados vários anos, este número se estabiliza ou mesmo cai um pouco, porém jamais aos níveis pré-legalização.

Fonte: http://revistavilanova.com/mentiras-sobre-o-aborto-parte-04/

5º Mito: O debate sobre a descriminalização do aborto necessariamente está ligado ao fato de que várias gestações resultam de estupro ou geram risco de vida para a mãe.

- Trata-se de usar as exceções para impor nova regra, deslegitimando a antiga.

6º mito: é absurdo não se aceitar a palavra da mulher quando ela afirma que a gravidez foi resultante de estupro, o que sem dúvida alguma demonstra uma discriminação contra ela.

não se exige da mulher nada além daquilo que é exigido de qualquer pessoa

7º mito: num estado laico, as normas de origem religiosa não devem interferir no Direito, como é o caso da proscrição do aborto.

Se o aborto deve ser descriminalizado porque sua proibição está contida em norma religiosa, também o deve ser o homicídio, o qual é proibido pelo clássico mandamento não matarás.

8º Mito: a defesa do aborto é por uma causa e não por interesses.

- a indústria do aborto virou um fabuloso negócio.
A indústria abortista apostou muito alto na venda de embriões para pesquisas de células-tronco, cujas fontes são embriões clonados, embriões in vitro não utilizados, culturas mantidas em laboratório e fetos decorrentes de abortos.

9º mito: o feto nada sente no procedimento abortivo no início da gestação.

- Falso! O documentário The Silent Scream[17] (do Dr. Bernard Nathason) mostra (em imagens de ultrassom) a reação desesperada de um feto durante um aborto. Basta ver o documentário. Sem palavras.

10º mito: é falso dizer que a legalização do aborto levará a condutas eugenistas ou discriminatórias.

- Nesse exato momento a China e a Índia contam com uma população feminina declinante (ao menos em termos relativos). Qual o motivo? Os abortos (legais) praticados contra meninas (incluso infanticídios).
Qualquer um que tenha estudado um pouco de história sabe muito bem que em toda cultura onde a matança de neonatos era permitida, as vítimas preferenciais eram meninas e deficientes.

11º mito – Muitos abortos acontecem independentemente da proibição legal, mas quem os pratica está sob risco.

- Muitos homicídios e roubos também acontecem independentemente da proibição legal e muitas vezes quem os pratica o faz em situação de risco.

12º mito – É um assunto que diz respeito somente à mulher! O corpo é dela. Trata-se de direito de autonomia sobre o próprio corpo.

-O direito ao próprio corpo não é absoluto. Se alguém está se afogando na tua frente e tu és um bom nadador, não adianta usar o discurso de que você é dono de seu corpo e não pode ser obrigado a pular na água para socorrer a outra pessoa. Caso faça isto, incorrerá no crime de omissão de socorro, previsto no Código Penal.
-Se a interferência sobre o feto é interferência no corpo da mulher, a recíproca é verdadeira. 

13º mito – Se não quer fazer aborto, não faça! Se acha que o aborto é errado, use sua liberdade de expressão em ser contra, mas não proíba ninguém de fazê-lo.

- estudantes de medicina estão sendo obrigados a fazer abortos, sendo cada vez menos aceito o argumento de objeção de consciência
- a liberdade de expressão do movimento pró-vida tem sido gradativamente cerceada

14º mito – Restringir o aborto é uma tentativa de controlar a vida sexual da mulher.

Não. Da mesma forma que o dever de pensão alimentícia não é uma tentativa de controlar a vida sexual do homem e sim de deixar claro que vida sexual é algo para ser encarado com responsabilidade, podendo ter suas consequências das quais uma pessoa com um mínimo de honra não deve fugir.

15 º mito – Punir não adianta. A melhor estratégia é a prevenção.

Se punição não resolve, por gentileza, as feministas (ardorosas defensoras do aborto) deem o exemplo e peçam que os estupradores presos neste país sejam imediatamente libertados, já que punir não adianta.

Quanto à prevenção, ela não é antagônica à punição. 

16º mito – Não é possível determinar quando começa a vida, daí o absurdo da proibição do aborto. Tanto é que o Código Civil brasileiro determina que a personalidade legal começa no nascimento, ou seja, o feto não é pessoa.

diante do risco, a conduta é de cautela e não de ação
- embora o Código Civil de fato não atribua o status de pessoa ao feto, o Pacto de San Jose da Costa Rica o faz, tendo o Brasil ratificado este tratado há mais 20 anos.

17º mito – Se a proteção ao feto deve chegar a tal ponto, então um simples arranhão no braço – que mutila milhões de células – deve ser considerado um genocídio.

- Células de um braço não são um organismo por si só, mas sim a parte integrante de – este sim – um organismo completo que é o ser humano.

18º mito – O feto depende do organismo da mãe para viver. Então ele não é um ser vivo autônomo e tampouco – em seus primeiros estágios – tem vida cerebral. Isto torna válido o aborto no início da gestação.

- Ao nascer o bebê também depende do organismo da mãe para ser amamentado. Inúmeras pessoas dependem de máquinas para viver. Qualquer um que use um marca-passo está sendo mantido por algo que veio de fora.

19º mito – O aborto ocorre naturalmente. Qual o problema em legalizá-lo?


- Muita gente (a maioria das pessoas, felizmente) morre naturalmente de velhice e nem por isso legalizamos o homicídio.

20º mito – A intervenção dos religiosos é mera hipocrisia, visto que eles nada fazem em prol das crianças sem família.

Os lares infantis, orfanatos, agências de adoção, escolas, fundações de amparo a menores, todos vinculados a instituições religiosas, são milhares e milhares no mundo inteiro! Seguem alguns exemplos básicos: Visão Mundial, Fundo Cristão para Crianças, as ordens católicas especializadas no atendimento a crianças e jovens (como os salesianos), as diversas organizações judaicas de ensino, Fundação Alan Kardec (espírita), etc. Se acrescentarmos as instituições islâmicas, esse número cresce ainda mais (no mundo muçulmano, a caridade é essencialmente religiosa, havendo pouco espaço para a filantropia laica). Então de onde se tirou essa ideia que as instituições religiosas nada fazem pelas crianças? Como alguém tem coragem de repetir um argumento tão falso quanto difamatório?[43]


sábado, 29 de março de 2014

Certas pesquisas apontam suas próprias opiniões

Antes de qualquer coisa: NINGUÉM merece ser vítima de NENHUM crime, MENOS AINDA crimes hediondos como o estupro.

Dito isso, dados interessantes:

- Curioso um instituto de Economia fazer uma pesquisa de comportamento social. Mas a pesquisa está aí: http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/SIPS/140327_sips_violencia_mulheres.pdf

- A amostra era de 3.810 pessoas. Isso é representativo da população brasileira?

- 66,5% de entrevistados são mulheres.

- Pesquisa do Núcleo de Estudos da Violência da USP aponta: 39,5% dos pesquisados aplicaria a pena de morte a estupradores, 34,3% a prisão perpétua e 11,1% a prisão com trabalhos forçados - penas inexistentes no Brasil.
Fonte: http://www.nevusp.org/downloads/down263a.pdf

-  As interpretações da pesquisa foram baseadas em teorias feministas.

Comentários meus, após ler a pesquisa e alguns comentários por aí:

- os que dizem que a culpa do assalto é da pessoa que ostentou riqueza não deveriam ficar escandalizados com a ideia de que “se as mulheres soubessem como se comportar, haveria menos estupros”, pois é o mesmíssimo raciocínio de culpabilidade da vítima.

- não aconselho às meninas andarem sozinhas de biquíni num beco escuro à noite. Vc não merece ser estuprada, mas o estuprador não pensa assim. Ele provavelmente nem pensa.

- Houve perguntas também sobre relacionamentos homossexuais, que não reverberaram pela mídia. O assunto parece que tá saindo de moda.

- Acreditar em um modelo de comportamento para mim não significa que quero o impor aos outros. As perguntas não refletem isso, em geral.

- Correlacionar a defesa da família tradicional com a violência me parece bem forçado. É claro que quem defende a violência provavelmente defende uma família patriarcal e a liderança masculina. Mas o contrário não é necessariamente verdadeiro. Dizer que pessoas religiosas tendem a defender a família patriarcal provoca a mesma associação indevida. Por que não dizer que quem defende uma família patriarcal tende a se dizer religioso?

- Poderiam ter aproveitado e feito perguntas inversas. Há, por exemplo, a afirmação: "Tem mulher que é para casar, tem mulher que é para a cama." Por que não testar a mesma afirmação para os homens? Acaso as mulheres não pensam que alguns homens não são para casar?

- Acaso não existem pessoas que não são nem para casar e nem para a cama? E são felizes assim?

- Eu não faço parte de nenhum dos 65% ou 35% ou o que for, não respondi e não responderia a uma pesquisa da qual não sei o que vão fazer os números falarem. Minhas ideias sobre as coisas são mais do que "concordo ou discordo, total ou parcialmente".

Por fim, o que a pesquisa me mostra com maior grau de confiança é a opinião dos próprios formuladores dela.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

As "Mudanças" no Catolicismo


http://www.catholiceducation.org/articles/apologetics/ap0494.htm


As "Mudanças" no Catolicismo

FATHER JAMES V. SCHALL, S.J.

Desde que Jorge Bergoglio se tornou Papa, tem havido incontáveis discussões sobre "mudança" na Igreja.

Francisco tem falado frequentemente, ele mesmo, sobre mudanças na curia, ou nas abordagens pastorais, ou na ênfase nesta ou naquela área da vida civil - pobreza, foem, economia e política. Ele tem enfatizado, apesar de essas não serem exatamente ideias novas, na "alegria" do Evangelho e na "Luz" da fé. Ele fala de uma abordagem diferente com os homossexuais e os divorciados. Suas palavras e ações são acompanhadas pela mídia muito proximamente e com entusiasmo. Ele ganhou publicidade internacional como um "novo" tipo de papa. Ele vive em um hotel, gosta de caminhar, cumprimenta todos com o olhar, e parece curtir coisas simples.

Nada do que o Papa fala é ignorado, exceto talvez quando ele reafirma que nada que é básico no ensimento cristão será ou pode ser mudado. Sua oposição ao aborto é conhecida mas não muito mencionada quando ele fala dela. Sua pergunta é famosa: "Quem sou eu para julgar?". Mas ele pergunta isso somente depois de pressupor que uma pessoa sinceramente deseja seguir a vontade de Deus de todas as formas. Muitos concluem desta maneira de colocar as coisas que o Papa está para aprovar o "casamento" gay ou o estilo de vida homossexual. Mas esse tipo de mudança não é a que ele pretende. Ele só está interessado em tornar mais fácil para os que desejam endireitar suas vidas que o façam, mas não que isso será sempre fácil. Que é de Deus o julgamento final em tudo é o ensinamento católico comum, não uma nova doutrina que o Papa Francisco trouxe de Buenos Aires. 


A palavra "mudança" tem profundas raízes filosóficas. Do "Nada muda" de Parmênides ao "Tudo muda" de Heráclito, ao "Algumas coisas mudam, outras não" de Aristótels, conseguimos cobrir todo um campo de possibilidades. Mudança significa que alguma coisa se torna diferente do que foi, de uma forma ou de outra. Aristóteles falava sobre mudanças acidentais - o crescimento da barba de alguém, ou sua audição se tornando fraca. O sujeito da mudança - a pessoa, João - depois da mudança permanecia o que fora. Tais mudanças em quantidade, qualidade, ou capacidade acontecem a todo momento. Elas são parte da vida diária.

Aristóteles também falava sobre mudanças substanciais. Quando um homem morre ou uma estrela explode, tais mudanças removem o sujeito mesmo das mudanças acidentais. O que nos resta a fazer é nos familiarizar com ambos os tipos de mudança. Elas acontecem ao redor de nós todo o tempo. Ainda, nós também vivemos em um mundo em que outras coisas não mudam de jeito nenhum. Mesmo que coelhos venham em diferentes cores ou possam perder uma ou duas pernas para as raposas, a ideia de o-que-é-um-coelho não muda. Mesmo que nenhum coelho real existisse, ainda assim poderíamos saber o que é um coelho. Coisas matemáticas não mudam. Elas são o que são. Deus não muda. Princípios não mudam. Porque nós seres humanos podemos conhecer coisas que não mudam, isso significa que nossa almas e intelecto, como Platão pensou, são imortais; senão não poderíamos conhecer coisas que não mudam.

Cada pessoa humana, aliás, é única. Não pode haver duas pessoas absolutamente idênticas, mesmo em um mundo de gêmeos e clones. Essa identidade pessoal significa que o mundo está cheio de pessoas que permanecem o que são. João é sempre João, Maria é sempre Maria, apesar de muitos desenvolvimentos e mudanças durante a vida. E mesmo com a morte, ninguém muda. Cada uma dessas pessoas, em sua passagem pelo mundo, decide livremente como irá finalmente mudar a si mesmo para ser para sempre o que é.

Cada ser humano é responsável pelas mudanças que o fazem um bom ou um mau ser humano. Cada pessoa finalmente decide, em outras palavras, como ele irá mudar permanentemente a sua orientação básica para Deus ou para si mesmo. Ele irá mudar, claro, no sentido de se tornar mais o que escolheu ser. Mas ninguém escolheu a existência, em primeiro lugar. Esse o-que-é-João-e-não-outro é dado a cada pessoa. Sua existência como João e não outra pessoa pode ser uma escolha, mas é uma escolha divina, não uma escolha humana. A existência de um ser humano, o seu "o que é", só pode ser vista como um dom, não como algo escolhido.


"Mudanças" acidentais na Igreja

Na questão se o catolicismo "muda", novamente fazemos as distinções básicas - substancialmente, não; acidentalmente, sim. Cardeal John Henry Newman tem uma fala famosa sobre o "desenvolvimento da doutrina". Por esta terminologia, ele não queria dizer que os ensinamentos originais de Cristo mudaram. Ele queria dizer que ele não mudam. Mas é sempre possível passá-los mais claramente ou entendê-los mais profundamente quando aprendemos outras coisas e temos mais experiências de vida.

A sentença mais conhecida sobre a Igreja é que "as portas do inferno não prevalecerão sobre ela." Essa posição é tomada para dizer que o que foi revelado por Cristo para nós irá ao mesmo tempo existir e permanecer o mesmo por todas as eras. A Igreja não existe para trazer "novas" práticas ou ensinamentos tão frequentemente. Ao contrário, ela existe para ter certeza de que, passadas as eras, o que Deus deseja que o homem saiba permanecerá disponível e inteligível para eles, sem mudanças essenciais. Essa visão significa que, através dos tempos, nas suas atividades ordinárias, a Igreja deveria perceber que o que Cristo ensinou no primeiro século também foi ensinado sem mudança em cada século posterior, inclusive o nosso. 

Poderíamos objetar que ninguém gosta de ouvir sempre o mesmo papo antigo sempre. O fato é que a maioria das pessoas nunca realmente ouviram o que a revelação ensina. Frequentemente, eles simplesmente se recusam a ouvir ou são prevenidos a não ouvir pela política local, religião, ou costume. Nós todos, sem dúvida, buscamos algo novo e impressionante. Mas relembramos que os ensinamentos da Igreja não são seus. São chamados "boa nova" por uma razão. Nós começamos a ver porque Deus foi tão insistente que Cristo falou em nome do seu Pai quando considerava as alternativas. De fato, a história da heresia, mesmo hoje em dia, apesar de não usarmos mais essa nobre palavra, é uma constante apresentação do pensamento e da vida humana. Ela sustenta uma alternativa ao preciso entendimento de Cristo sobre o homem, o cosmos, e Deus. Em retrospecto, parece bem claro que a única maneira que Deus teria para garantir que os seres humanos não alterassem a essência do que queria que soubessem era garantir Ele mesmo.

O trabalho do papa não é justificado pela sabedoria de suas "mudanças". Ao contrário, seu propósito primário é não mudar. Frequentemente a nossa mentalidade é que nós "estagnamos" se não mudamos. No caso da Igreja, ela "estagna", se ela muda o que ensina ou pratica. Nós deveríamos estar preparados para entrar em qualquer igreja católica em qualquer tempo da história ou em qualquer lugar e encontrar exatamente o que nos foi revelado através de Cristo. A Revelação foi feita para nos dizer, a cada um, o que precisamos saber para nossa salvação, ambos o que é verdadeiro e o que precisamos fazer.

Na superfície, ser ensinado que em um mesmo Deus há uma vida de três diferentes pessoas, o Pai, o Filho, e o Espírito, e que uma dessas Pessoas, o Filho, o Logos, se fez homem para nos redimir, é quase uma tarefa impossível para os padrões humanos. Nenhum ser humano teria feito o que Deus queria desta forma. A noção da redenção pela cruz é definitivamente improvável. E há este detalhe sobre como viver vidas justas e boas, de ser julgados e responsabilizados por nossas vidas diante de um padrão, que parece nos impedir de "ser nós mesmos". O fato é que o caminho da cruz é a única maneira que temos de ser o que fomos feitos para ser. A maravilha do catolicismo é que não poderíamos pensar em um sistema melhor para nós mesmos.


 Como frequentemente é apontado, a Igreja é a maior instituição na civilização que mantém que a verdade existe nas coisas, inclusive nos pensamentos humanos. 
Tudo que poderíamos pensar como uma alternativa para o que Deus revelou já foi tentado uma vez ou outra. O que chamamos "multiculturalismo" hoje significa que todas essas "alternativas" ao catolicismo são igualmente boas. Não podemos julgar entre elas porque não temos "critério", uma vez que rejeitamos a revelação e as bases para sua verdade. É interessante refletir em por quê os homens do nosso tempo têm tanta aversão à verdade. Frequentemente, o que está por trás de demandas por "mudanças" na Igreja é precisamente este relativismo que quer que a Igreja abaixe o tom ou transforme o seu depósito de verdades no que os homens propuseram.

Somos ensinados que não importa o que acreditamos ou fazemos. Somos todos iguais. Todos temos o "direito" de definir nossa própria felicidade. Nós todos temos o mesmo destino, não importa o que fazemos ou pensamos. Não há julgamento final. Católicos deveriam sustentar, ao contrário, que é um sinal de humildade reconhecer que a verdade de Deus é melhor para os homens do que qualquer "verdade" inventada pelos homens. Mas desde que afirmamos que criamos nosso próprio mundo, se torna um ato de orgulho negar que qualquer verdade possa existir além da nossa própria.

E é essa última "mudança", para um mundo do nosso próprio feitio, que muitos querem que tome lugar dentro da Igreja. Como frequentemente é apontado, a Igreja é a maior instituição na civilização que mantém que a verdade existe nas coisas, inclusive nos pensamentos humanos. Queremos uma Igreja "mudada" que não pense que seus ensinamentos ou práticas são de origem divina. Queremos uma filosofia que não é enraizada na razão. Queremos uma Igreja que não clame que isso é verdade. Quando isso acontece - e muitos pensam que estão vendo isso acontecer - podemos dar as boas vindas ao "mundo moderno" para esses obstinados católicos. Então serão cidadãos leais que não pensam que o que é revelado é realmente verdadeiro, mas somente uma maneira de viver na prática igual em dignidade e propósito a qualquer outra.

Então, no final, algo está em jogo nessas difundidas e insistentes discussões por "mudanças" na Igreja. Uma vez que todas as mudanças "cosméticas" que o Papa Francisco deseja forem feitas, porém, a Igreja continuará ensinando exatamente as mesmas coisas que sempre ensinou. Para essa "não-mudança" final, eu suspeito, somente duas alternativas são possíveis - conversão ou perseguição. Isso está implícito nas Escrituras. São Paulo escreve aos Coríntios que "em um piscar de olhos, nós estaremos todos transformados."(1 Cor 15:51-52) Nós seremos "mudados" para aquilo que fomos projetados para ser desde o início. Essa última "mudança", efetivada pelo Senhor e não nós mesmos, é a que poucos querem ouvir sobre, pois isso requer a admissão de que a verdade e a conversão a ela são o coração da realidade humana.




ACKNOWLEDGEMENT
Father James V. Schall, S.J. "On "Changing" Catholicism." Catholic Pulse (January 17, 2014).

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Rabiscando na areia

E Jesus ficou rabiscando na areia. Naquele sacrário, naquele domingo, enquanto tantos gritavam e discutiam quem era o padre, quem era o bispo, que horas era a missa, ia ter missa, não ia ter missa. Naquela Belo Horizonte do meu coração, daqui de outra serra vejo outro horizonte, escuro e feio. Meu coração chora, dói fundo na alma a falta de reverência ao Coração Eucarístico. Vejo ovelhas sem pastor e quero lhes dizer: olhem para Jesus, está ali, sozinho, no altar, é Ele quem cura, é Ele quem salva, é Ele o bom pastor, não importa o padre...

Dominus Vobiscum...

Por que será que não enxergam Jesus ali? Os gritos, porém, são muito altos, tão altos que turvam a vista. E os pagãos exclamam, admirados, veja como não se amam! Discuto com pessoas sobre o caso, as visões são diversas. Fala-se sobre não haver missa, a decisão ser arbitrária, a decisão ser sábia, de não haver colegiado, de não haver compreensão, procura-se um documento, uma norma, uma lei. Quis chamar a atenção para o primeiro mandamento, esquecido naquela missa que não houve, daquele povo que não ouve, falar do que dói no meu coração, por amor àquelas almas que se confessam publicamente contra uma missa. Meu Deus, contra uma missa! Não sei se me fiz entender, não sei se ofendi alguém. Sinto que fui chamado, também, de fariseu. Eu, que não conhecia tal norma, estaria muito apegado às leis e às normas, ao certo e ao errado. Talvez sim, talvez não, posso ter levado para o pessoal, mas isso não importa. Pois naquela discussão Jesus continuou rabiscando na areia, naquele sacrário, naquele altar.

O frei se pronuncia. A Arquidiocese se pronuncia, diz que a responsabilidade é da Província Carmelita. Outros dizem que é do bispo, outros que também não, mas sim do antigo bispo. Os gritos agora estão nas ruas. Jovens me pedem para interceder por eles. Meu coração ainda chora, fica indignado, quer fazer algo.

Confiteor...

Eu tenho cá meus pecados e confesso que, dentre eles, às vezes me apresso em condenar. Meu raciocínio funciona mais rápido que meu coração. Mas quando fico sozinho, também Jesus me diz: "Eu também não te condeno... vai e não tornes a pecar!". Eu também sei que a miséria do pecado é enorme, e fico ansioso para dizer aos irmãos: olhem para Jesus! Não tornem a pecar! Ele é a luz do mundo! O que devo fazer, Senhor? para que eles também creiam? Como chegar e anunciar a boa nova às pessoas? Minha fé ainda é pequena, faz ela maior. Pode haver amor demais em buscar a Verdade com a inteligência que me deste?

Lectio... 

"Se permanecerdes na minha palavra, sereis meus verdadeiros discípulos, conhecereis a verdade e ela vos libertará ... Vós tendes como pai o demônio e quereis fazer os desejos de vosso pai. Ele era homicida desde o princípio e não permaneceu na verdade, porque a verdade não está nele. Quando diz a mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira." "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida." 

O tal frei diz muitas coisas. Dizem, por exemplo, que ensina que Jesus não é Deus. As pessoas discutem: heresia! Deveria ser excomungado! Por isso não vou à igreja! Outros dizem: santo! Gênio! Só vou à igreja por causa dele! Fala-se em diálogo, o que se espera, quem deveria fazer o que, quando, onde. Dizem que isso, que aquilo, que disse, que não disse, disse que me diz....

E Jesus continuou rabiscando na areia do pó daquelas pedras não atiradas, daquele povo que não ouve, daquela missa que não houve. "Mas, antes que Abraão fosse, eu sou." Sim, Ele é! Olhem para Ele!

"A essas palavras, pegaram então em pedras para lhas atirar."

Chamem as autoridades, o bispo, o superior da ordem, tomem uma providência!
"...mas, o que é a verdade?..."
"...não terias autoridade se não fosse meu Pai que te desse..."
"...lavo minhas mãos..."
E convocaram uma assembleia. E preferiram Barrabás.
Todos se esqueceram de Jesus.
E Jesus ficou ali, sozinho, naquele mesmo sacrário, preso, maltratado, humilhado, naquela mesma cruz, naquele mesmo altar, em todos os altares do mundo.

"Pai, perdoai-lhes, pois não sabem o que fazem..."

Agnus Dei, qui tollis peccata mundi, miserere nobis....

Porque não somos dignos, sempre O crucificamos de novo, e de novo, e de novo.
Ainda assim o Senhor ressuscita e nos chama, a todos, outra vez, todas as vezes, em todas as missas, pois só Ele pode nos fazer comunhão. Mas só se quisermos ser humildes, como Ele nos ensinou.

Deo Gratias.

Ite, missa est!


segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Moral Brasileira

_ Sabe o que é, Carlos, aquela paixão, aquele tesão, aquele amor todo acabou...
_ Pois é, Marcão, acontece. É complicado mesmo, são muitos anos aturando os mesmos problemas.
_ É, tem umas épocas que fica bom, outras tudo dá errado, sabe? Complica o meio de campo, ninguém se entende...
_ Acontece nas melhores famílias, cara. Mas, ó, sou teu amigão do peito, precisando estamos aí.
_ Pô, nessas horas é bom saber que podemos contar com alguém.
_Isso aí.
_ Não imaginava que você fosse ser tão mente aberta assim.
_ Deixa isso pra lá. Então, amanhã a gente vai assistir a final onde?
_ Como assim, cara? Tô acabando de dizer que acabou a paixão!
_ Então, nada melhor que um futebol pra esquecer a Janice.
_ Que Janice? Que isso? Eu tô muito bem com minha esposa!
_ Uai, mas o amor não acabou?
_ O amor pelo Galo¹, c*! Não está entendendo? Cansei disso, tenho coisa melhor pra fazer!
_ O quê ?!!! Seu traidor! Seu p*! Você não pensa nos seus filhos não? O que eles vão dizer na escola? É f*! Hoje em dia não dá mais pra cofiar em ninguém. Você não tem princípios? Valores? Vira casaca! Vou desligar porque eu não falo com traidor! ( Tu tu tu tu...)


¹ Obviamente poderia ser o Cruzeiro, o Flamengo, o Vasco, o Fluminense, etc. 
Esporte é saudável, fanatismo não.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

O distributismo de Hillaire Belloc

Tradução de: http://www.remnantnewspaper.com/Archives/archive.2006-0415-distributivism.htm

Bruce J. Brommel
Colunista convidado
Hilaire Belloc (1950)
“A escolha é entre a propriedade, por um lado, e escravidão, pública ou privada, por outro.  Não há terceira alternativa.”

Assim termina o prefácio de Um Ensaio sobre a  Restauração da Propriedade, um curto porém monumental trabalho sobre economia de Hilaire Belloc, um dos mais prolíficos e influentes escritores católicos do século passado1.  Talvez ninguém mais do que ele - chamado de "Antigo trovão" por sua mãe por cause de seu temperamento feroz– sacudiu os católicos de seu tempo de sua letargia e os desafiou a aplicar na prática os caminhos e princípios delineados pelo papa Leão XIII em sua marcante encíclica Rerum Novarum ("Sobre a condição das classes trabalhadoras"), pela restauração de uma verdadeira vida social católica, particularmente na área da economia.

Infelizmente, hoje, os críticos e os defensores acerca do distributismo - também chamado distributivismo ou distribucionismo - tendem a distorcer, exagerar ou mesmo contradizer o que Belloc escreveu sobre o assunto. Seja por simples ignorância ou uma tentativa deliberada de divorciar a visão de Belloc de suas raízes no autêntico ensinamento social católico, o resultado final é que os escritos distributistas são muito frequentemente representados como fora de época e irrelevantes para os católicos contemporâneos que procuram por soluções para as doenças sociais de nossos tempos. O propósito do presente estudo é identificar várias das mais proeminentes distorções de seu pensamento, deixando que Belloc mesmo responda a elas3, e demonstrar que suas visões estão completamente alinhadas com o ensinamento social católico.

A primira das distorções que iremos examinar tenta rotular Belloc como um mero especulador ético-social, cujas ideias não têm significância substancial no "mundo real" da economia. Dr. Todd R. Flanders, falando em "What’s Wrong with Distributivism?", afirma: "Pois o distributismo foi, e é em suas novas manifestações, mais um movimento em ética do que em economia. Seus mais famosos expoentes iniciais, Hilaire Belloc e G.K. Chesterton, foram pensadores amplos, para quem as ideias econômicas e a experiência dos sistemas econômicos não eram estrangeiras - apesar de que esses homens também não eram economistas”4. Aqui, Dr. Flanders procura promover a noção de que a visão ética que Belloc se preocupa em ter na economia (e como isso afeta os indivíduos e as famílias temporalmente, e mesmo espiritualmente) não tem realmente nada a ver com um verdadeiro estudo sólido de economia.

Todavia, fazendo isso, Dr. Flanders aliena seu próprio pensamento da fundação mesma da genuína economia, relegando-a a uma esfera meramente especulativa resernvada somente para aqueles conferidos institucionalmente com o título "economista". Isso trai a essência mesma da verdadeira economia, que Pe. Denis Fahey, CSSp, explica em seu livro The Mystical Body of Christ in the Modern World: "A Economia é a ciência que estuda primariamente as relações pessoas que constituem a família, as relações de marido e mulher, pais e filhos, mestres e servos, e então, secundariamente, as relações dessas pessoas com os bens externos (o direito à propriedade e o uso e aquisição de riqueza). Etimologicamente, economia é o governo da casa e da família5. A Economia estuda as famílias e as relações constituídas pelos seus membros e então em suas condições de existência”6. Que Belloc tem primariamente o bem da família em mente é claro desde a primeira página de seu Ensaio: "É óbvio que quem for que controle os meios de produção controla o suprimento de riqueza. Se, então os meios de produção daquelas riquezas que uma família precisa estão sob controle de outros que não a família, a família será dependente desses outros; ela não será economicamente livre. A família é idealmente livre quando controla completamente todos os meios necessários à produção de tal riqueza que ela precise consumir para uma vida normal."7. Isso nos traz a um outro desentendimento frequentemente feito em relação ao distributismo de Belloc, que foi abordado recentemente por Dr. Thomas E. Woods, Jr. em seu artigo no site Remnant, “Capitalism Defended”. Dr. Woods descreve um distributismo que advoga que "as pessoas deveriam ser removidas da divisão do trabalho em uma sociedade de mercado e recuadas, ao invés, a uma espécie de autarquia ... A ênfase aqui é em ter a maior parte possível de pessoas que sejam donas de sua própria terra e quaisquer meios de produção que utilizem."8. Dr. Woods nos apresenta a vaca benevolente que ele seria infelizmente forçado a alimentar, se fosse coagido a isso em tal sociedade. Entretanto, forçar as pessoas a alimentar uma vaca não é parte do distributismo de Belloc, porque ao falar de tal sistema independente, Belloc continua com o seu tema da família e explica que "tal ideal é desumano e, portanto, não pode ser exatamente atingido, porque o homem é um animal social. Não é impossível atingi-lo no curto prazo, e tem sido brevemente atingido toda vez que um colono solitário se fixa com sua família e seus pertences em um local isolado. Mas tal completa liberdade econômica para cada família não pode ser permanente, porque a família cresce e se divide em outras famílias numerosas, formando uma grande comunidade. Além disso, mesmo que família suporte viver isolada, ela se renderia às necessidades da natureza humana, que seu isolamento iria tolher e degradar. Pois, o homem não pode se completar através de uma diversidade de interesses e ideias. Multiplicidade é essencial para a vida e os homens, para serem verdadeiramente humanos precisam se socializar9. Dr. Woods afirma que os distributistas rejeitam "os benefícios que advêm da participação na divisão do trabalho em larga escala que compreende a economia de mercado". Porém, novamente, isso não é o distributismo de Belloc, que continua: "a sociedade, sendo necessária ao homem, traz, no campo econômico, duas limitações à liberdade econômica: -- Primeiro, diferença de ocupações: cada um na sociedade irá se concentrar no que tiver a melhor oportunidade para produzir e, por trocar o que sobra pelo que outros tiverem a melhor oportunidade para produzir, irá aumentar a riqueza de todos; ou, o que vem a ser a mesma coisa, diminuir o fardo do trabalho para todos... Pois se a família troca o seu excedente, ou mesmo toda a sua produção, pelo excedente dos outros, ela ainda retém a sua liberdade, assim como a estrutura social, construída de famílias similarmente livres, exercita seus efeitos através dos costumes e leis consoantes com o seu espírito: as Guildas; uma ciumenta observação e destruição do monopólio, a salvaguarda da herança, especialmente a herança de pequenos patrimônios"10.

Belloc então continua o desenvolvimento de sua ideia distributista com uma explicação do papel do Estado: "Segundo, O Princípio da Unidade: deve haver alguma forma de Estado. Uma unidade suficientemente larga para o desenvolvimento das artes e as melhores complexidades da vida devem ser organizadas. Seu poder deve ser utilizado para prover justiça, prevenção da desordem interna e a defesa contra agressores externos. Em geral, o Estado deve exercer alguma restrição sobre a liberdade econômica da família, ou a própria liberdade não poderá ser garantida"11.

Novamente, sobre a função do Estado, Belloc é completamente incompreendido por muitos dos seus críticos. Dr. Flanders,
desejando compreender Belloc ao menos neste aspecto da questão em mãos, escreve: "Mas Belloc prestou ainda um grande serviço aos amantes da liberdade. Central à sua crítica de ambos, o coletivista e o "capitalista" estado servil, foi uma oposição ao poder estatal e ao poder coercitivo das leis que expropriem e transferem riqueza e trabalho"12. Ele descreve Belloc como tendo "esmagadora oposição ao poder e controle estatal," e chama a intromissão estatal em assuntos econômicos de "preocupação chefe" de Belloc13. Infelizmente, para Dr. Flanders, o Belloc que ele deseja não é o real, pois Belloc mesmo afirma: "Deve haver leis para proteger a propriedade não somente contra a rapina direta mas contra a dissolução através do exagero da competição. Deve haver sanção estatal aos poderes da guilda, ao processo de herança, à restrição de encargos indevidos. Deve haver alguma máquina oficial para fomentar a propagação da pequena propriedade da mesma forma que há máquina oficial hoje fomentando a destruição da pequena e bem distribuída propriedade em favor de grandes proprietários..."14. De fato, Belloc descreve a regulação estatal como a chave para o sucesso de seu plano porque "nosso esforço irá falhar a menos que seja acompanhado de regulações feitas para a preservação da propriedade privada, e muito dela deve ser restaurado... A propriedade bem dividida não surgirá espontaneamente em uma sociedade capitalista. Deve ser artificialmente favorecida. O comunismo surgirá da sociedade capitalista, pois é um produto do pensamento capitalista e se move nas mesmas linhas do capitalismo. Mas a propriedade bem dividida não irá surgir assim. Além disso, uma vez restabelecida, a propriedade deve ser constantemente sustentada ou irá cair de novo no capitalismo... [Historicamente,] o capitalismo somente surgiu depois que as garantias à propriedade bem distribuída e privada foram quebradas por uma vontade má cuja resistência foi insuficiente. Não foi só o capitalismo que veio antes e gradualmente dissolveu a instituição da propriedade bem distribuída; foram as condições sob as quais a propriedade bem distribuída poderia sobreviver sozinha, e sobreviveu por séculos, que foram primeiramente destruídas. Só então, após a sua destruição, o campo ficou livre para o crescimento da plutocracia na política e o capitalismo na estrutura econômica do Estado”15.

Falando mais sobre as guildas, Belloc pontua que eram "privilegiadas e estabelecidas por leis positivas”16, e ele é consistente em enfatizar através do seu trabalho que o suporte do Estado é essencial para a manutenção da liberdade econômica, que eles sumariza assim: "Liberdade econômica é a nossos olhos um bem. Está entre os maiores dos bens temporais porque é necessária para a mais alta vida em sociedade através da dignidade do homem e da multiplicidade de suas ações, cuja multiplicidade é vida. Somente através da propriedade bem dividida podem as unidades da sociedade reagirem contra o Estado. Somente assim pode florescer uma opinião pública. Somente onde o conjunto de células é saudável pode o organismo todo se desenvolver. Portanto, é nosso negócio restaurar a liberdade econômica através da restauração da única instituição sob a qual ela se desenvolve, tal instituição é a Propriedade. O problema diante de nós é como restaurar a Propriedade como ela deveria ser, como era há não muito tempo atrás, uma instituição geral.

“Três ressalvas devem ser feitas claramente antes de nos aproximarmos do problema e tentar uma solução prática.
A primeira é que, na restauração da propriedade, não estamos tentando, e não poderíamos nunca atingir, uma perfeição mecânica. Nós só estamos tentando mudar o tom geral da sociedade e restaurar a propriedade como uma instituição comum, mas não universalmente presente.
A segunda é que não podemos nem começar tal reforma a menos que haja um estado mental favorável na sociedade, um desejo de ter propriedade, suficiente para suportar e manter o movimento e nortear as instituições que o faça ser permanente.
A terceira é que, nesta tentativa de restaurar a liberdade econômica, os poderes do Estado devem ser invocados”17.

Finalmente, devemos voltar nossa atenção aos que levantam a bandeira do Distributismo, que tentam - não Belloc - retirar qualquer relação que ele tem com a Verdadeira Religião18. Escrevendo em Generally Speaking, em dezembro de 1996, a revista da The American Chesterton Society, M. de Marco elabora: "Distributismo, como uma teoria sobre a sociedade justa, pode ser desligada do espiritual tão facilmente quanto as suas rivais. Então, sobre Distributismo e Religião, podemos dizer que, se a religião é um bem ( e se alguma religião em particular é a melhor) então ela está limitada a florescer na sociedade justa. Partindo de que os homens são livres e auto-suficientes, eles terão amplas oportunidades para saber o bem e segui-lo. Desta forma, podemos dizer que a sociedade injusta irá desencorajar a religião verdadeira, seja por completa opressão ou pela instituição de valores (como a cobiça) que corrompem o homem." De Marco então declara que "a separação do Distributismo e Religião estava estabelecida"19.

Desconsiderando a falsa noção de que a Verdade irá surgir sozinha da bondade do homem, o que é basicamente Racionalismo20, essa concepção de separação também não soa verdadeira para os filhos e filhas da Igreja Católica, pois, como Leão XIII explica em sua carta encíclica "Sobre a Democracia Cristã": "É da opinião de alguns, e o erro é também muito comum, que a questão social é meramente econômica, enquanto a questão é, sobretudo, moral e religiosa, e por essa razão devem ser estabelecidos os princípios da moralidade e de acordo com os ditados da religião”21.


Fr. Fahey, escrevendo em The Mystical Body of Christ in the Modern World, concorda: "O poder indireto da Igreja sobre questões temporais, sempre que os interesses da Vida Divina das almas estão envolvidos, pressupõe, é claro, uma clara distinção da natureza entre a autoridade eclesial, encarregada do cuidado das coisas divinas, e da autoridade civil, cuja missão é concernente a matérias puramente temporais. Na proporção em que o Corpo Místico de Cristo fosse aceito pela humanidade, o pensamento e a ação política e econômica começaria a respeitar a jurisdição e guia da Igreja Católica, dotada, como ela é, com o direito de intervenção nos assuntos temporais sempre que necessário, por causa de sua participação no Reinado Espiritual de Cristo. Assim, o bem comum natural e temporal dos Estados seria visto de maneira calculada para favorecer o desenvolvimento da verdadeira personalidade, dentro e através do Corpo Místico de Cristo, e a vida social estaria cada vez mais sob a influência do supremo fim do homem, a visão de Deus em três Pessoas Divinas.

“Portanto, A Ordem Social Católica, vista como um todo, não é primariamente a organização política e econômica da sociedade. É primariamente o organismo social supernatural da Igreja, e então, secundariamente, a ordem social temporal ou natural resultante da influência da doutrina católica na política e na economia e da incorporação de tal influência nas instituições sociais”22.

Belloc abraça a natureza moral de todas as ações humanas, em ambas as dimensões espiritual e temporal, quando defende o bem intrínseco da liberdade econômica para os indivíduos: "Não podemos fazer o bem, ou o mal, se não fizermos livremente, e se admitirmos a ideia de bem em toda a sociedade humana, a liberdade deve ser sua acompanhante"23. Então, Belloc não abraça, como outros distributistas, a "teoria fatal"24 e procuram separar o que Deus uniu, mas respeitar e defender a Verdade Divina de que todos os aspectos da sociedade e da cultura devem tender à salvação das nossas almas.

Belloc tem sido acusado de promover ideias econômicas muito "impraticáveis"25 para resolver os problemas de seus dias, que são os mesmos problemas dos nossos dias. Dr. Flanders acusa Belloc de incorretamente ver "padrões de uso da  propriedade como estáticos ao invés de dinâmicos"26, quando na verdade Belloc entende a "diversidade que é a vida" e admite, "Haverá muitos comparativamente pobres, e alguns comparativamente ricos. Haverá presumivelmente alguma porção de despossuídos. Mas, a Propriedade, e sua acompanhante, a Liberdade Econômica, será a marca da sociedade como um todo”28. Na realidade, as soluções que ele propõe são eminentemente humanas, e sempre tendem à salvação da alma. Para Belloc, "a propriedade é essencial para uma vida plena"29. Enquanto outros buscam simplificar demais os problemas, eliminando este ou aquele elemento da questão em mãos, Belloc olha para a vida em toda a sua bela e complexa realidade, e propõe alguma coisa subitamente honesta: "Mas onde for que o Estado Servil para o qual nós estamos tendendo atualmente possa estar completo, o Estado Proprietário (ou Distributista) não pode, ou não poderia, estar completo; pois não é da sua natureza ser mecânico”30. Ele diz em outro lugar, "Não pode haver perfeição nele, deve permanecer incompleto; nem poderia haver uma melhor prova de que a tentativa é humana, consoante à natureza humana”31.

Bem , acho que se parece com uma Utopia. Mas não é a solução de Belloc simpática à nossa própria experiência humana, bem fundamentada nas realidades do dia-a-dia? Enquanto eu sento na mesa de jantar escrevendo essas notas com uma caneta velha e fraca, enquanto crianças choram e riem e brincam no quintal, e espirram leite e biscoitos nos meus livros e papéis espalhados, e enquanto eu explico para a minha esposa o que ela precisa digitar para mim, pois ela é mais rápida com suas duas mãos do que eu com meus dois dedos, eu encontro mais verdade e conforto e esperança nos pensamentos práticos de um homem que escreveu e falou, não para o amor de algum princípio econômico acadêmico obscuro e insondável, mas pelo amor de todos nós, o que vem da Caridade: "Isso foi encontrado na prática, e a verdade é testemunhada pelos instintos de todos nós, que tal propriedade largamente distribuída como uma condição para a liberdade é necessária para a normal satisfação da natureza humana”32.

Rejeitando tudo ou uma parte do que é essencialmente o distributismo, os críticos rejeitam o que é essencialmente Belloc: um homem comum, um homem de família, o fiel filho da Santa Igreja.

Notas:
(1)       An Essay on the Restoration of Property was first published in 1936 by the Distributist League.  It is now under the domain of the Hilaire Belloc Estate. Belloc lived from 1870 to 1953.
(2)       Old Thunder: A Life of Hilaire Belloc, by Joseph Pearce, p. 1.
(3)       All quotes of Belloc are taken from An Essay on the Restoration of Property as reprinted by IHS Press, Norfolk, VA, 2002.
(4)       “What’s Wrong with Distributivism?” by Dr. Todd R. Flanders; http://www.acton.org/ppolicy/adjunct/papers/distribute.html, p. 1.
(5)       Internal footnote: Lecons de Philosophie Sociale (vol I, p. 148), “Economy, as its name expresses, studies the order of the human household, arranging, according to their respective values, persons and things (Philosophie Economique, by J. Vialatoux, p.78.
(6)       The Mystical Body of Christ in the Modern World, by Denis Fahey, C.S.Sp. (Third Edition), p. 6-7.
(7)       Essay, pp. 25, 26.
(8)       “Capitalism Defended” by Dr. Thomas E. Woods, Jr., Remnant Sept 30, 2004 (p. 13).
(9)       Essay, p. 26.
(10)    Ibid., p. 26.
(11)    Ibid., p. 26.
(12)    Flanders, p. 3.
(13)    Ibid., p. 4.
(14)    Essay, p. 38.
(15)    Ibid., p. 39-40, 41.  This appears to echo perfectly the thoughts of Leo XIII in Rerum Novarum, May 15, 1891, paragraph 6:  “After the old trade guilds had been destroyed in the last century, and no protection was substituted in their place, and when public institutions and legislation had cast off traditional religious teaching, it gradually came about that the present age handed over the workers, each alone and defenseless, to the inhumanity of employers and the unbridled greed of competitors.  A devouring usury, although often condemned by the Church, but practiced nevertheless under another form by avaricious and grasping men, has increased the evil; and in addition, the whole process of production, as well as trade in every kind of goods has been brought almost entirely under the power of a few, so that a very few rich and exceedingly rich men have laid a yoke almost of slavery on the unnumbered masses of non-owning workers.”
(16)    Essay, p. 95.
(17)    Ibid., p. 33.
(18)    This concept of separating commerce from morality is actually capitalist in origin. As Amintore Fanfani relates in Catholicism, Protestantism and Capitalism: “Another difference between the mentality of the pre-capitalist and that of the capitalist is this: the former considers that appraisement of value in the economic sphere should be governed by moral criteria; the latter would make the economic criterion the sole norm of such appraisements” (emphasis mine).  Interestingly, as an aside, the thesis of his book is that the errors of Capitalism actually arose from and were fostered by corrupt Catholics towards the close of the Middle Ages – and helped precipitate the end of that era – rather than by Protestants at a later period, as is believed by many.
(19)    “Against ‘The American Distributist’ by Daniel Krotz” by M. De Marco, http://mdemarco.web.wesleyan.edu/gkc/distrib/essay.html, p. 1.
(20)    See Pope Pius IX’s Syllabus of Errors, December 8, 1864, especially paragraphs 3, 4, 6, 8, and 9.  Paragraph 4 reads: “All the truths of religion proceed from the innate strength of human reason; hence reason is the ultimate standard by which man can and ought to arrive at the knowledge of all truths of every kind.” – Condemned.  Also see Fahey’s The Mystical Body of Christ in the Modern World, Chapter 4: “The Revolutionary Deification of Man,” Section D – Rationalism, Naturalism and Revolution.
(21)    Graves de Communi Re, January 18, 1901, paragraph 11.
(22)    The Mystical Body of Christ in the Modern World, p. 5.
(23)    Essay, p. 30.
(24)    Libertas Praestantissimum (On the Nature of True Liberty), by Pope Leo XIII, June 20, 1888, paragraph 18.
(25)    Flanders, p. 1.
(26)    Ibid., p. 4.
(27)    Essay, p. 30.
(28)    Ibid., p. 36.
(29)    Ibid., p. 28.
(30)    Ibid., p. 36.
(31)    Ibid., pp. 33-34.
(32)    Ibid., p. 27.