Nos últimos dias fiquei atordoado procurando referências sobre o novo Papa. O cardeal Schönborn declarou que o Papa dará "fortes sinais" nos próximos dias. Já tem nos surpreendido desde a escolha do nome, que nos remete, sem dúvida, a Francisco de Assis, o poverello, representante-mor da humildade que constrange, a simplicidade e a doçura na voz que desarma as pessoas, até os que não creem. Contra a caridade, não há argumentos.
No meio de todo esse burburinho sobre mudanças na Igreja, poderíamos nos perguntar, afinal, a Igreja muda? Graças a Deus muda, se não mudasse, não poderia melhorar o que está ruim. Os tempos mudam. Alguns problemas do nosso tempo não são os mesmos que a Igreja enfrentou no passado. Por outro lado e ao mesmo tempo, a Igreja não muda. Os homens são essencialmente os mesmos, os pecados, os mesmos. A solução para o pecado é sempre a mesma, a salvação é sempre a mesma, a verdade é sempre a mesma, somos seres decaídos que precisamos de Deus para nos salvar, do arrependimento, do perdão, da conversão de vida. Nesse aparente paradoxo, vemos que coexistem no mesmo organismo algo imutável - a doutrina de Cristo -, e as realidades administrativas e temporais que podem - e devem - ser constantemente reavaliadas à luz do mesmo Cristo. Cristo é nossa âncora, sem Ele somos nau à deriva. É nossa rocha, nossa pedra angular. Portanto, esqueçam qualquer mudança doutrinária, não percam seu tempo. O Papa não pode alterar a moral e a fé, nem que queira. Nenhum deles o fez, nem os piores. Mesmo que Francisco não venha a ser um bom papa, devemos ter fé e perseverar, pois só Deus sabe tirar o bem do mal.
Infelizmente há, hoje, uma "igreja" muda, tíbia, envergonhada, tímida, que não fala mais de Cristo, do pecado, da conversão. Que é só uma ONG, que não assume a cruz de Cristo, que não quer edificar a Igreja e nem confessar a glória do Cristo Crucificado. Tem vergonha de assumir-se realmente cristã. Tem vergonha do seu passado e de sua história. Tem medo de ser velha e retrógrada e se perde nos ventos da modernidade, sem referências. Quer agradar a todos e abandona o Evangelho em suas partes mais duras. Que não proclama a plenos pulmões sua fé, pois na prática não acredita muito. Essa é outra, não é mais a Igreja Católica, apesar de parecida com ela à primeira vista. É uma igreja em ruínas. Cada um deve ser humilde para reconhecer em qual delas está.
Mas a Igreja verdadeira, esta é indestrutível. Devemos ter esperança, pois de outra vez o próprio Cristo pediu: "Francisco, vai e reconstrói a minha Igreja." O pobrezinho de Assis levou a caridade às últimas consequências. Ele reconstruiu, não revolucionou. Revolução implica colocar coisas de cabeça para baixo, destruir uma realidade para colocar outra no lugar, essa é a mentalidade das revoluções do século XX. Francisco reconstruiu algo que estava em ruínas, pois tinha em mente algo anterior que era bom, mas que foi corrompido. Essa é a história da Igreja, a história do homem. O verdadeiro progresso é sempre um retorno à caridade, simplicidade e pureza que um dia perdemos pelo pecado. Na história do mundo e na história de cada um. É um olhar para trás para seguir em frente sabendo onde vai.
Assim, reconstruir a Igreja é reconstruir a nós mesmos. Quando perguntaram a Madre Teresa o que deveria ser mudado na Igreja, ela respondeu: "Eu" - e o fez. É reconstruir a chama original de fé e esperança que ainda arde no peito de todos os batizados. É renunciar ao pecado, ao demônio, buscar a santidade da maneira radical e apaixonada do pequeno grande santo. Francisco não fará nada sem você e eu. A verdadeira reconstrução da Igreja começa no meu coração. Essa transformação deve ser tal que transborde em todos os aspectos de nossas vidas e nos vejamos, finalmente, vivendo a plena caridade dos filhos amados de Deus. Sugiro a todos imitarmos São Francisco nessa reconstrução tão necessária da nossa fé em Jesus Cristo, aproveitando o tempo de conversão especial da Quaresma, que já está terminando. Já fez seu exame de consciência? Já ajudou alguém? Já se esforçou para ser melhor?
Peçamos a Deus, pela intercessão da Virgem Maria, que a Igreja seja reconstruída a cada gesto, a começar por mim mesmo.
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