terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Família - afetos e afetações

A biologia nos ensina que o encontro de um espermatozoide e de um óvulo gera um embrião, que gera uma nova vida. A natureza reservou esse movimento extraordinário de propagação da vida para uma complementaridade expressa em dois sexos diferentes na espécie humana. Por isso estamos aqui, por isso podemos escrever e ler esse texto. Necessariamente, você que me lê veio desse encontro de dois indivíduos. As sociedades humanas, bem antes de saberem da existência das células microscópicas, perceberam que a relação sexual de um homem com uma mulher tinha grande potencial de resultar em bebês. Ainda que a libido sexual fosse tratada de maneiras diferentes em diferentes épocas e lugares, a humanidade percebeu que havia algo de sagrado nessa relação. Sagrado, porque diferente das demais: era capaz de gerar vidas. Ainda que existissem outros afetos, outras paixões, essa tinha um toque especial, pois propagava nossa existência. Antes do Direito, da Filosofia e da Religião, nossos tataravós não precisaram de muito estudo para perceber isso. Mesmo sem Medicina, nossas avós fizeram sexo com seus homens, deram à luz e amamentaram seus filhos para que hoje estivéssemos aqui. Esses afetos produziram ideias na mente das pessoas, dando-se nome a eles: pai, mãe, filhos, família. Outros afetos eram aluno, professor, escravo, senhor, servo, aprendiz. Mesmo as sociedades que sabemos ser mais explícitas outras relações sexuais não ousaram chamar esses prazeres de família. Existe uma ideia natural de família que veio da própria natureza.

A organização estatal, em sua evolução histórica, veio a reconhecer essa instituição, anterior ao próprio Estado. Tomou como seu dever tutelá-la e protegê-la, por reconhecer nela a célula fundamental da sociedade, de fato a primeira comunidade em que os seres humanos são gerados e recebidos e onde aprendem, bem ou mal, a conviver. É de interesse público notório o bem que a família natural produz na sociedade. À parte outros bens, ela garante que possamos falar de sociedade, pois garante que possamos vir à vida. Sua importância é tal, que sem ela não há sociedade.

O reconhecimento de fenômenos naturais que regem o comportamento e a própria condição de existência do ser humano e da sociedade leva a crer que há uma lei moral natural que não está necessariamente escrita, expressa, mas que se desobedecida, colocará em risco a legitimidade da lei positivada. Aqui me oponho, decerto, ao chamado Direito Positivo, à medida em que se abre a possibilidade de estabelecer, através das leis humanas, realidades contrárias à própria natureza do homem. Me oponho também às filosofias que pregam uma determinação do homem por ele mesmo, como se ele fosse capaz de se autoconstruir e autodeterminar e não estivesse limitado a nada exterior a ele. A lei civil, portanto, quando se afasta em demasia da realidade humana corre o risco de perder a força de obrigar a consciência, corre o grave risco de gerar uma mentalidade e um costume artificial, não conforme a natureza, que foge à verdade, e, por consequência, ao bem. Os modelos e conceitos nela expressos tendem a inundar a língua corrente, se tornando rapidamente senso comum, moldando nas novas gerações a compreensão e avaliação dos comportamentos.

Os sistemas jurídicos contemporâneos celebram, felizmente, os princípios da dignidade da pessoa humana e da igualdade em suas Leis Maiores, o que permitiu acabar com diversas injustiças. Primam, também, pela busca da isonomia, que desde Aristóteles é muito bem entendida como "tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais". É essa igualdade justa que não permite que surjam discriminações sem uma base lógica e racional para tal. É essa desigualdade justa que permite à mulher licença maternidade, que permite aos idosos e deficientes tratamento diferenciado, dentre outras coisas, por reconhecer motivos naturais para tal. É essa desigualdade justa e digna que confere, naturalmente, lugar de honra à realidade única que é o modelo homem-mulher-filhos, que a natureza nos coloca, independente de nossa vontade. (Pode-se dizer que é um monopólio natural, que nunca será suplantado por outra configuração em sua potencial geração de novas vidas.) Esse reconhecimento específico confere diversos direitos aos indivíduos que realizam esse modelo. 

Pois bem, com o objetivo de que esses mesmos direitos sejam integralmente estendidos a outros tipos de relações, pautadas tão somente por laços afetivos, está-se recorrendo à desconstrução conceitual desse modelo. Precisa-se mudar a ideia de família nos conceitos jurídicos, para que as leis possam ser alargadas. É isso que vem sendo feito no mundo, e no Brasil, com o objetivo claro e declarado de construir um novo modelo familiar, equiparando-o conceitualmente ao modelo natural, não somente no ordenamento jurídico, mas na mentalidade da sociedade. O modelo de família que está sendo proposto ao povo brasileiro é o de uma comunidade de pessoas unidas somente por laços afetivos, contemplando, assim, diversas configurações possíveis. A dimensão procriativa, que é tão cara à nossa existência, é colocada como um mero detalhe, quando não totalmente dispensável. Exemplos desse movimento na atividade do STF brasileiro podem ser conferidos nos links:


Pode-se ver já um reconhecimento de fato desse novo conceito na legislação infraconstitucional, como por exemplo na Lei Maria da Penha.

Seria justo e coerente modificar conceitos a fim de conceder direitos a uma classe que definitivamente não irá produzir o mesmo grau de benefício à sociedade que a família natural? Não se poderia criar uma outra condição jurídica de forma a produzir os efeitos materiais reclamados por esse indivíduos, dignos em sua condição humana, mas definitivamente estéreis? Não seria, também, um desrespeito à condição humana e à justiça equiparar situações que naturalmente são impossíveis de ser equiparadas sem atentar contra a reta razão que nos diz que dois homens ou duas mulheres, por mais que queiram, não conseguirão produzir o mesmo efeito que um homem e uma mulher, considerando iguais coisas que não são? Pode-se falar em dignidade da pessoa sem honrar e respeitar o processo que faz com que essa pessoa venha a existir? As sociedades estão enfrentando, cada vez mais, complicados problemas demográficos e previdenciários com a queda das taxas de natalidade. Alguns países estão percebendo que correm o risco de diminuírem perigosamente sua população. Não seria a hora de voltar a valorizar a família natural? Creio que a construção artificial de uma mentalidade que não dá o devido e justo lugar ao mistério da vida humana não irá contribuir para o bem da nossa civilização. 

Afinal, temos o direito de ditar à natureza o nosso Direito? De minha parte, cada choro de bebê que eu ouvir será para mim um testemunho da natureza de que não há lei humana que revogue essa realidade tão bela: todos somos filhos de um pai e de uma mãe.


segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Eu não gosto do Papa Bento XVI

Tenho ouvido, desde o último conclave, uma frase que ficou na moda: "Eu não gosto do Papa Bento XVI", acompanhado de suas irmãs "Eu gostava mais do João Paulo, ele era mais simpático" e assemelhados. Os motivos são tão superficiais quanto contraditórios. Uns gostam por que é conservador, outros não gostam pelo mesmo motivo. Já outros não gostam por que o consideram muito progressista e por aí vai.

A rigor, ninguém é obrigado a gostar de ninguém. O caso é outro, bem diferente e bem mais exigente: temos que amá-lo, primeiramente por que é uma pessoa, não é esse o mandamento? Amar não é gostar, ainda vou escrever mais sobre isso. Além disso, por que é bom que tenhamos um papa. Assim como é bom que tenhamos um presidente da república. Você não precisa gostar da pessoa, mas do cargo sim. Dom Bosco ensinava seus alunos a gritar: "viva o Papa!"  e não "Viva Pio X, Bento XV, Leão XIII, o que for ". Pois, o que os católicos devemos ter como bom é a presença de um sucessor de Pedro na Terra, por pior que ele seja. É bom ter um papa, melhor ainda se ele for bom, lamentável se for ruim, mas nunca sem nenhum.

Tem também aquele papo de "como assim o papa é infalível?" e as pessoas imaginam logo que os católicos inventaram uma história que o cara é o super-homem, que tem superpoderes e todas as ovelhinhas inocentes têm que aceitar de pronto tudo que ele diz, para manter os seus poderes político-religiosos sobre grande parte da humanidade, etc. É claro que deve-se respeito à sua posição e o que ele diz deve ser ouvido com muita boa-vontade. Mas, não vejo a ideia da infalibilidade como um super poder extraterreno, vejo antes como uma limitação. De fato, mesmo se você não é católico, há de convir comigo que se a pessoa acredita nessa Igreja, é porque ela acredita que Deus fala através dessa Igreja. E é bem razoável pensar que esse mesmo Deus onipotente não permitiria que o chefe máximo, a autoridade máxima dessa Igreja ensinasse algo de errado em matéria de fé e moral, em determinadas circunstâncias bem estritas. Anotou? Em matéria de fé e moral. É isso que se verifica na história dessa Igreja, um conjunto harmônico de ensinamentos de fé e moral, que você pode concordar ou não, acreditar ou não, seguir ou não. Só não pode dizer outra coisa diferente como se católico fosse, se quiser ser coerente intelectualmente, mas se isso não for muito caro para você, pode parar de ler esse texto por aqui. Se você não acredita em Deus, ou na Igreja Católica, não há como acreditar em papado mesmo. Em outras palavras, se Sua Santidade acordar de mau humor e falar algum despautério para os jornalistas amanhã cedo, isso seria um pecado, uma leviandade, um descuido muito sério dele, mas não vai abalar minha fé. Vai me fazer rezar por ele. É isso que me faz confiar em Bento XVI e qualquer outro que vier, pois a promessa de Cristo de que "as portas do inferno não prevalecerão sobre ela" me leva a acreditar nisso. Padre Ratzinger, que foi considerado um perigoso modernista no Concílio Vaticano II, vem adotando posturas que nos convidam a visitar o passado da Igreja e descobrir, assim, um riquíssimo tesouro espiritual.

Os exagerados que vêm com aquela velha história: ah, mas existiram muitos papas ruins, quem estuda a história acaba deixando de ser católico, pois essa igreja já foi tomada de muita corrupção, etc e tal, por acaso já deixaram de acreditar na república e na democracia por toda a lama que se assiste hoje no cenário político secular? Por que então eu deveria deixar de ser católico pelo mesmo motivo? É claro que não devo gostar de um papa ruim. Minha frequência habitual aos sacramentos nada tem a ver com os pecados de alguns homens da Renascença (sim, não foi a Idade Média a época pior nesse sentido, como muitos desinformados dizem por aí), tem a ver com os meus. Até quando vão achar que argumentos fracos como esse vão me fazer abandonar uma tradição espiritual que formou tantos santos? E outra, por que se fala tanto dos pecadores, mas sobre os santos o silêncio é assustador? Por que é tão bonito falar dos religiosos podres e quando se começa a dizer "olha, que vida bonita teve Padre Pio" as pessoas viram a cara e já te olham com desprezo? Preciso responder?

Vejo numa banca de jornal revistinhas com "orações de cura", "novena milagrosa para a casa própria", "reza para se livrar das dívidas", ao lado de títulos do tipo "como montar uma empresa e ficar rico", "dietas para secar a barriga até o carnaval", "exercícios para concursos públicos". Que catolicismo é esse, minha gente? 
A resposta é simples: isso não é catolicismo. Ser católico de verdade não é um simples gostar de padres bonitinhos que cantam e papas velhinhos que dão tchauzinho e falam de paz. É muito, mas muito mais profundo que isso, muito mais exigente que isso. Não é defender tudo que se diz católico como se torce por um time de futebol. Não é um rezar para obter isso e aquilo, como se fosse um supermercado do "sucesso", uma relação de troca pagã entre a pessoa e seus santos de "devoção". Antes disso, é imitar o santo, é pedir sua ajuda espiritual para ser como ele foi: bem próximo de Cristo. Você não precisa gostar do padre, mas você tem que amar a Cristo através da pessoa do padre, muitas vezes apesar do padre. Aliás, para aproveitar bem os sacramentos não é nem muito bom prestar muita atenção no padre. Não nele como pessoa, mas na função que ele exerce ali.

No mais, eu gosto do Papa Bento XVI por uma identificação pessoal. Ele dá muitas indicações de ser um introvertido. Uma pessoa que volta e meia gosta de subir a montanha (física ou virtual) para refletir sobre a vida e se aprofundar em seus pensamentos. Creio que seja esse o remédio que o homem contemporâneo precise. Parar para pensar para onde estamos indo. A cultura da pressa que já abordei aqui, conjugada com a cultura da extroversão, veja aqui, tem produzido muita confusão, muito barulho, muito corre-corre inútil. A cultura do sempre novo, sempre jovem, que ainda pretendo abordar, gera um preconceito nas nossas cabeças que nos fazem rechaçar com muita pressa o falar lento e muitas vezes sábio dos mais velhos. A pressa de falar e aparecer não estão nos deixando ouvir o que têm a dizer os que não falam muito. São mais calados porque pensam muito no que falam . Por isso, quando falam, normalmente trazem conteúdo útil e interessante. Por que não podemos ter um papa tímido? Todos têm que ser comunicativos e midiáticos nos dias de hoje? Que preconceito é esse? Que intolerância é essa? Só os extrovertidos são dignos de amor e admiração? Só os jovens-bonitos-sarados-animados devem ter vez? Será que não está na hora da busca da sabedoria entrar na moda de novo? Se você não gosta da Igreja por que é muito "desanimada", "coisa de velho", "chata", meu amigo, você está procurando outra coisa, existem outros lugares que oferecem isso. Eu ultimamente tenho preferido mil vezes missas mais tranquilas, que me deixam rezar em paz do que aquelas em que se tem que seguir a coreografia sob pena de te olharem estranho com aquela cara de "olha que menino chato, parece um velho". Alô, mundo, estar quieto e falar baixo não é sinônimo de tristeza. Pode significar paz no coração, ok?

Enfim, por essas e outras, eu, que nasci católico, não consigo deixar de sê-lo. Sempre que ensaio uma excursão exterior volto pra casa correndo, mais convicto que antes. De certa forma, os ateus têm me ajudado a ser católico cada vez mais.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Evoluímos

Evoluímos.

Hoje temos tecnologia, hoje somos racionais, hoje podemos pensar com liberdade. Hoje não temos mais superstições, somos inteligentes e críticos. Hoje somos muito melhores do que antes. Já se foi o tempo em que se controlavam as consciências, as leituras, as ideias, hoje somos muito mais livres e melhores. Não temos mais fé cega, pois confiamos cegamente na ciência. Não acreditamos assim facilmente no que outras pessoas dizem, várias pessoas nos convenceram disso.

Evoluímos. Podemos ler todo o tipo de literatura e nos tornarmos cada vez mais cultos, nos embriagar de tanta informação a ponto de não discernir mais entre o bom e o ruim, pois não dá tempo de pensar no que se lê. Lemos cada vez mais porcaria e informação inútil, somos mais sabidos e menos sábios.

Evoluímos, pois deixamos pra trás essas idéias antigas de pecado, de céu e inferno, de certo e errado, de verdadeiro e falso, de bem e mal, e passamos a relativizar todas essas coisas, a ponto de nem pensar mais nelas. Somos livres para escolher o que quisermos, para escolher qualquer coisa, para escolher o nada, para não ter escolha, para não ser livres...

Evoluímos, pois não aceitamos nenhum pensamento absoluto e intolerante, pois tudo pode ser visto de vários modos, então tudo é relativo, então não venha com essa de querer me dizer algo e me forçar a pensar do seu jeito, pois eu não aceito pessoas e idéias tão fechadas e autoritárias e intolerantes, não vou tolerar isso de jeito nenhum.

Evoluímos, não mandamos ninguém para a fogueira por questões filosóficas ou religiosas. Pessoas que defendem essas idéias fundamentalistas deveriam morrer, todas.

Evoluímos, pois temos acesso a muitos bens culturais, músicas, filmes, livros, museus, teatros, e posso baixar o arquivo do meu funk predileto ilegalmente com muito mais facilidade e admirar os versos da mais alta poesia. Ontem tínhamos Machado de Assis, Carlos Drummond, aqueles chatos, hoje temos ... qual é o nome mesmo daquele cara daquela música daquela novela? Já saiu de moda?

Evoluímos, pois hoje casamos por amor. E separamos também, e casamos de novo, para sempre. Porque, afinal, nada é definitivo. Nem a frase anterior. E não temos filhos, pois cachorros são muito mais legais, não questionam nada, estão sempre felizes, dão menos despesa e só vivem 15 anos. E filhos estragam o corpo, dão muito trabalho, enfim, atrapalham o amor, sabe? E o mundo é tão cruel, coitadas das crianças, serem obrigadas a virem a esse mundo tão ruim. É melhor nem ter nascido.

Evoluímos. As técnicas mais avançadas da ciência possibilitam mães matarem seus bebês com mais conforto, e as reflexões éticas e filosóficas as confundem o bastante para que não encarem o aborto como o que é: um assassinato.

Evoluímos. Nossas drogas viciam e transformam pessoas saudáveis em zumbis muito mais rápido do que as inocentes ervas das tribos indígenas de outrora. E nossas armas matam com muito mais eficiência. Nossas bombas são capazes de dizimar a humanidade.

Evoluímos. A um clique, podemos acessar todo tipo de pornografia, pedofilia, zoofilia, sei-lá-mais-o-quê-filia, pois somos livres, cada vez mais. Podemos nos conectar com pessoas do mundo inteiro e ensiná-las a se prostituírem. Somos mais saudáveis. Podemos ficar horas admirando e desejando o corpo dos outros e se entupindo de comida porcaria, enquanto a vida real passa lá fora, mas é tão chata. Podemos modificar a família, nos desamarrar dos preconceitos culturais, evitar os confrontos, rejeitar nossos pais e avós, modificar a genética, construir outro tipo de sociedade, outro tipo de ser humano, cada vez mais independente, cada vez mais solitário, cada vez mais depressivo, cada vez mais suicida.

Evoluímos. Hoje percorremos grandes distâncias com aviões e carros, estamos cada vez mais interconectados, as notícias são dadas em tempo real, podemos fazer várias coisas ao mesmo tempo, ganhamos muito tempo, aceleramos tudo, tudo é mais rápido e mais fácil, e fazemos tantas coisas que não dá tempo de sentar calmamente para almoçar com meus amigos e familiares, pois é preciso ser um ótimo profissional. 

Evoluímos, pois podemos nos tornar super-homens, que fazem de tudo um pouco, e muito, e bem, e somos lindos e jovens e inteligentes e preparados e não nos permitimos errar. Nem falhar. Nem envelhecer. Nem ser nós mesmos. Nem viver.

Evoluímos. Do dízimo medieval à carga tributária de 40% da república democrática. Do príncipe maquiavélico ao pluripartidarismo fisiológico, da manipulação da opinião pública através dos meios de comunicação, dos jogos de poder, do politicamente correto que constrange qualquer argumento contrário em nome da liberdade e tolerância, da política moderna e maquiavélica.

Evoluímos. Não temos mais senhores, não temos mais monarcas. Agora só obedecemos e somos fiéis ao dinheiro, ao empregador, ao capital, ao Partido, ao Governo. São muito melhores, mais sensíveis e justos e caridosos.

Evoluímos. Agora temos 1.000.000 de amigos no ICQ, quer dizer, MSN, quer dizer, Orkut, quer dizer, Twitter, quer dizer, Facebook, quer dizer, quem é você mesmo?

Evoluímos. Somos muito eficientes, rápidos, bem informados, livres e independentes. A humanidade não caminha mais, ela corre velozmente, ela vai de trem, de trem-bala. Só deixamos de prestar atenção ao destino da viagem há umas estações atrás. Mas sente-se em sua poltrona, confortável, este é o caminho largo e fácil. Não haverá dificuldades, a viagem será boa e agradável enquanto você se distrair para não pensar no final dela. Afinal, dê bastante importância a outras coisas, para que não tenha que pensar nas coisas mais importantes da vida. Esses assuntos são muito desagradáveis e você não vai querer ser visto pelos outros como chato, vai? Pois você é uma pessoa inteligente, evoluída, independente, para a qual a opinião dos outros sobre a sua pessoa não tem a menor importância.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Busca pessoal

Desde o meu primeiro post, Desabafo, as constatações que tenho feito acerca da humanidade têm me impelido, muitas vezes até contra minha vontade, confesso, a indagações e investigações cada vez mais profundas e complexas. Na busca da Luz, para fugir das trevas, nada mais natural que começar pelas referências explícitas da tradição judaico-cristã na qual nós, ocidentais, fomos criados, para no mínimo entender nossa sociedade e as razões das coisas que nos acontecem desde que acordamos todos os dias.
Parto da premissa de que uma filosofia, sistema filosófico e/ou religião pode ser perfeitamente racional e crível, mas deve passar pelo crivo da realidade. E vejo, tranquilamente, que muitos fatos de minha vida pessoal têm se interpolado a essas questões e têm servido, mais e mais, para corroborar com minhas conclusões.

Ao mesmo tempo, a percepção de realidades muito simples é dificultada no mundo de hoje por um verdadeiro vendaval de informações que são tanto desconexas quanto numerosas. O homem moderno médio passeia entre idéias as mais contraditórias sem perceber. Chega a ser cômico quando nos damos licença para nos afastarmos um pouco do barulho da rua e olhar as coisas de outro ponto. As formiguinhas apressadas não sabem para onde correm. Como Chesterton, às vezes me vejo dando mil voltas buscando algo complexo e me dou conta ao final de que a resposta é simples e ... conhecida!

Venho seguindo um caminho de auto-didata, pois esta busca é em grande parte pessoal. A constatação do viés introvertido de minha personalidade (veja aqui) deu novo fôlego a minha peregrinação intelectual. De fato, estou com uma atração muito natural acerca de alguns temas (esse é o eros filosófico), e percebo que esses estudos têm produzido grandes efeitos primeiramente em mim, e depois, de forma muito gratificante, nas pessoas com as quais convivo nos mais variados ambientes e que me dão o prazer de trocar algumas idéias em conversas um pouco mais profundas, mas normalmente prazerosas.

De maneira geral, autores que não estão na grande mídia como Chesterton, Hillaire Belloc, Peter Kreeft, Fr James Schall, vêm me mostrando um outro lado da realidade que na verdade está debaixo do nosso nariz o tempo todo e muito pouca gente vê. A modernidade fez o desfavor de opacar nossas retinas com o pretexto de iluminá-las. Algumas verdades, por si só, têm o poder de mudar vidas. Como "amar o pecador e odiar o pecado".

Uma das grandes questões que tenho confrontado, e que tem a ver com toda a base da doutrina cristã é o amor. De fato, não há como ser cristão e ao mesmo tempo não saber, ou nem procurar saber o que é o amor. Mas, o triste é que poucos o fazem. Essa palavra tão falada, tão traduzida, tão mal entendida. Afinal, o que é amor? Por que se diz que Deus é amor? Num próximo post pretendo abordar esse tema e dar um overview sobre o que encontrei até agora, as conclusões que tirei e o efeito muito prático destas ideias na minha vida. Aceito contribuições e sugestões. A primeira é que para descobrir algo sobre isso, não procure nos jornais, nem nas novelas. As pedras preciosas precisam ser garimpadas.