sexta-feira, 23 de novembro de 2012

A capelinha

"De que adianta então ganhar o mundo, e perder a sua alma?"Mc 8,36

A construção é pequena, paredes caiadas e brancas, o chão de terra. Uma amendoeira compõe a paisagem em meio ao calor de verão. As pessoas vão chegando, a pé, com uma simplicidade de coração que comove só de olhar. Domingo de manhã, algumas crianças correm pelo terreno, onde chegam também fuscas, brasílias e carroças. Um cachorrinho passa, e o pipoqueiro se posiciona estrategicamente. O padre espera todos à porta, devidamente paramentado, "Bom dia! Sejam bem vindos!". Bancos simples de madeira, algumas poucas janelas. Gentes de todas as cores, tamanhos e idades, vão se posicionando. Alguns seguram o terço, as mães acalmam as crianças e lhes explicam alguma coisa sobre ficar quietinho.

Um canto fácil e um violão dedilhado com suavidade, todas as rubricas com o maior zelo. Uma cruz no meio do altar testemunha o que vai acontecer ali. O povo de Deus se reúne e O busca, pois sabe que Dele precisa. Um silêncio que grita, uma fé pura, que não passa na TV, que não sai no jornal. Que segue em frente, sem doutorados nem mestrados, mas com sabedoria. São José à direita, Santa Maria à esquerda. Ao meio, o Sacrário do Deus Vivo, com a chama acesa do Amor que não se apaga. A Palavra que nutre, a exortação do sacerdote, a verdade limpa e clara, os olhos que se abrem, o reconhecimento das faltas e da própria pequenez. As proposições de nobreza, de virtude, de perseverança, de constância, de buscar o caminho correto, a retidão, a esperança. Movimentos quase imperceptíveis aos corações empedernidos. 

A fila de pés descalços e sandálias, a roupa de domingo e os sapatos arrumados, a confiança expressa em juventudes e rugas, em calos e sorrisos infantis. Ajoelham-se perante o Pão da Vida, entregue nas bocas famintas, frágeis e devotas. Não há histeria, mas um silêncio suave e tocante. Não há revoluções, mas mudança interior. Não há revolta, mas respeito profundo por uma tradição e uma sabedoria milenar, passada de pai para filho. Nem novo nem velho, é Eterno. 

Lá fora o mundo grita, esperneia, corre, discute, compra, vende, xinga, mata, aborta crianças indefesas, maltrata idosos, rouba dinheiro de hospitais e escolas, ensina crianças a desrespeitarem seu corpo e suas mentes, empurra porcaria goela abaixo pela TV, calunia, arquiteta planos maquiavélicos para ter poder, destruir as famílias e manipular a mente dessa gente. E as pequenas ovelhas, assustadas, vão em missão em meio aos lobos, certas de que seu Pai não lhes abandonará.

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