Poderia eu, através de minha finita percepção humana, conhecer a tudo, concebendo a Verdade em sua plenitude? Conseguiria o meu intelecto tão desprezível e limitado ter a noção exata e inequívoca do certo e do errado? Acaso sou eu melhor em algo que meus semelhantes? Acaso sou eu, tão humano, capaz de perceber, por minha única e exclusiva força e vontade, ter uma visão mais clara, mais límpida do que outros? Que méritos porventura possuiria para tal? Por que seria eu, este ser insignificante em um universo infinito, dotado de faculdades mais desenvolvidas que outrem? Mesmo que diferenças existam, seriam ínfimas diante da grandeza do universo e da infinidade de coisas que se precisaria conhecer para chegar a uma dimensão completa do que é a verdade acerca de todas as coisas. O que sabe um Phd comparado a um analfabeto é nada diante da grandeza do nosso planeta, que dirá do universo.
Acaso, portanto, o que não compreendo deveria ser tomado automaticamente como errado e falso? Ou existem coisas que ultrapassam meu entendimento, mas que podem perfeitamente ser verdadeiras, ainda que minha razão limitada não as alcance? Pedindo licença a Sócrates, então, quanto mais me aproximar das verdades que me cabe conhecer, com mais mistérios irei me deparar, assim como um balão que, quanto mais cheio, maior é a sua área de contato com a atmosfera exterior.
Assim acontecerá com todas as ciências das quais não poderei tomar contato durante minha fugaz existência terrestre, da mesma forma também com várias outras coisas que nem mesmo todos os sábios do mundo conseguiriam explicar, nem que vivessem por toda a eternidade.
Mas, mesmo limitada, esta consciência certamente tem a capacidade de se expandir ao ponto de tocar a superfície do balão que se enche e perceber, estupefata, a existência de tais verdades insondáveis, inconcebíveis, infinitas, imponderáveis. E que muito mais existe para além deste pequeno balão e que nunca será conhecido, por mais que esta membrana se expanda, nem mesmo com a união de todos os seres inteligentes que possam existir.
Que não se negue, entretanto, a faculdade de conter algo de sólido e verdadeiro em uma consciência, digamos, “inspirada”. Esta negação seria uma pretensa verdade conhecida, que deveria, portanto estar contida em nosso balão da consciência, ou seja, ninguém poderia dizer: “Ninguém é capaz de conhecer uma verdade”, sem que este mesmo indivíduo não se contradiga a si mesmo, pois esta mesma é uma pretensa verdade.
Ó Racionalismo orgulhoso, será que não vê que não é razoável negar a sua própria limitação? Que para expandir a consciência é necessário um sopro que não seja forte demais para não ferir a sua capacidade? Que é tão antiga quanto a filosofia a noção de que quanto mais se sabe, mais mistérios se conhece? Assim como existem verdades que podem e são conhecidas pelo intelecto humano, também há aquelas que permanecerão por todo o sempre sob o manto do desconhecido.
Ou então não haveria o infinito? Verdade que nos é dada conhecer, sem todavia compreender...
Ó Incomensurável, dá-me sempre a humildade para conhecer o que me é dado conhecer e prestar a devida reverência aos mistérios da existência. Contemplando-te, tomo consciência de minha pequenez, ao mesmo tempo em que percebo a exata medida de minhas não nulas possibilidades. Isto mesmo não compreendo, este mistério insondável do existir, pois que é paradoxo se saber ao mesmo tempo nada e alguma coisa, como um único ponto infinitesimal em uma função matemática qualquer.
O que não se pode negar e nem explicar, aceita-se, simplesmente.